Título: Morte e troca de acusações na Febem
Autor: Marisa Folgato
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Metrópole, p. C1

Morreu ontem um dos 21 internos da Febem feridos na rebelião de anteontem no Complexo Tatuapé. Jonatan Vieira Anacleto, de 17 anos, que estava havia dois meses na instituição, caiu do telhado e chegou em coma ao hospital, segundo a fundação. Mas a morte no motim, que deixou ainda 34 funcionários feridos, ficou em segundo plano num dia de troca de acusações entre a Febem e entidades de defesa de direitos humanos. O governador Geraldo Alckmin também responsabilizou o Judiciário pelas crises na instituição. A presidente da Febem, Berenice Maria Giannella, disse que é preciso investigar denúncias de funcionários de que a presidente da Associação de Mães e Amigos da Criança e do Adolescente em Risco (Amar), Conceição Paganele teria, na sexta-feira, incitado adolescentes à fuga e à rebelião. Ela pode ser proibida de entrar na instituição. Conceição promete processar a Febem.

Alckmin também criticou a presidente da Amar em entrevista à Rádio CBN, de manhã. "Algumas dessas organizações não-governamentais trabalham permanentemente contra o governo. Não colaboram. Essa Conceição, esse Ariel (de Castro Alves, do Movimento Nacional de Direitos Humanos), só fazem atrapalhar", disse.

À tarde, Alckmin afirmou que a rebelião "não foi de geração espontânea". "Foram fatos incitados, estimulados. Tem gente tentando desestabilizar a Febem e nós determinamos que a Febem investigue os que estão procurando prejudicar a instituição, criando rebelião, conflitos e colocando vidas em risco."

Ele disse que já cobrou do Ministério Público soluções alternativas à internação. "Os menores infratores ficam mais tempo na Febem do que os criminosos adultos, na cadeia." Em entrevista à Rádio Eldorado, Alckmin afirmou que existem 7 mil adolescentes internados. "A maioria desses jovens deveria estar em casa com suas famílias, em liberdade assistida." O procurador-geral do Estado, Rodrigo Pinho, vai falar hoje sobre o assunto.

Berenice visitou o complexo ontem e voltou a ouvir de funcionários que Conceição os teria desrespeitado na frente dos internos. "Segundo eles, ela disse que adolescentes da Unidade 4 estavam oprimidos e seus colegas deveriam salvá-los." Berenice disse que internos das Unidades 19, 20 e 39 usaram um trator para invadir a 4 na rebelião. "Mas os garotos não quiseram sair." Fugiram 61 e 49 foram recapturados.

Diretor do sindicato dos funcionários da Febem, Fabiano Kaczorowsky, que trabalha na Unidade 16 do Tatuapé, disse que não ouviu nenhum comentário favorável à rebelião da parte de Conceição na sexta-feira.