Título: Estado melhora em ranking da violência
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Metrópole, p. C4

Estudo inédito do Ministério da Saúde coloca São Paulo e Rio no topo do ranking de cidades onde há maior risco à vida por causas não-naturais (homicídios, mortes por arma de fogo sem causa determinada, suicídios e acidentes de trânsito). E mostra que, entre 2000 e 2004, municípios paulistas como Campinas, Diadema e Guarulhos (SP) deixaram a lista das dez localidades mais violentas. O levantamento do ministério confirma a tendência de redução violência na Grande São Paulo detectada em balanços do governo paulista. Em 2000, a capital já liderava o ranking, com Guarulhos na quarta colocação e Diadema na sétima. Também se destacavam Osasco (16ª), São Bernardo do Campo (22ª) e Embu (24ª).

Quatro anos depois, os índices de violência caíram na capital. Além de São Paulo, só Guarulhos permaneceu entre as 25 primeiras cidades da lista - na 20ª posição. "A redução da violência é um fenômeno estadual, mas foi maior na Grande São Paulo do que no interior", explica o sociólogo Túlio Kahn. "A polícia herdou da saúde o enfoque epidemiológico da violência. É uma lógica de investir os recursos onde o problema é mais agudo."

Coordenador do Fórum Metropolitano de Segurança Urbana, o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT), aponta três fatores que ajudaram a reduzir os índices de mortes violentas, principalmente homicídios. "Houve avanços na ação policial, no desarmamento da população e nas políticas de inclusão, em especial para os jovens."

Ao todo, foram calculados índices de 249 municípios, onde vivem 94,6 milhões de pessoas. Das 126.211 mortes violentas ocorridas em 2004 no Brasil, 53.849 foram registradas nessas cidades - 60,2% foram assassinatos. Os cem municípios do topo da lista registraram uma de cada três mortes violentas do País, no ano passado.

"É nos grandes aglomerados urbanos das regiões metropolitanas que problemas como desigualdade social e mortes violentas apresentam mais gravidade", diz o médico Otaliba Libânio de Morais Neto, diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde do ministério. São municípios dessas regiões as novidades no ranking de 2004: Curitiba, Salvador, Fortaleza e a cidade de Serra, na Grande Vitória (ES). A exceção a essa regra é Foz do Iguaçu (PR). Mas lá o aumento da violência é atribuído ao crime organizado, atraído pela situação geográfica de um município que fica na fronteira com Paraguai e Argentina.

O ministério adotou metodologia própria, encomendada à Fundação Osvaldo Cruz, para avaliar em quais cidades com população superior a 100 mil habitantes ocorrem mais mortes violentas. Para chegar ao índice, usou dados do Sistema deInformações de Mortalidade (SIM), que coleta dados nos hospitais de todos os municípios. O cálculo dá mais peso a casos de homicídios e mortes por arma de fogo sem causa determinada do que a suicídios e acidentes. Também privilegia taxas por 100 mil habitantes em relação aos números absolutos.

Com o ranking, a União quer traçar um mapa para direcionar recursos a programas da Rede Nacional de Prevenção à Violência - que recebeu R$ 5,5 milhões em 2005. Em Curitiba e Goiânia, o ministério vai dedicar mais atenção às mortes no trânsito, enquanto Belo Horizonte e Recife demandam mais esforços na questão dos homicídios. "É trabalhando nesses grandes aglomerados que você reduzirá o número de mortes violentas no Brasil."

"Meu filho morreu por exercer sua cidadania", diz Ana Maria. Hoje, ela atua como assistente da Promotoria na acusação dos policiais, em processo sob segredo de Justiça. "É uma luta contínua, mas necessária. Para termos direito a ficar na porta de casa sem correr risco de ser mortos."