Título: Aftosa: PR acusa governo de pressão
Autor: Evandro Fadel , Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Economia & Negócios, p. B13

Secretário teria recebido proposta de técnicos do Ministério da Agricultura para admitir a existência da doença no Estado

CURITIBA - O diretor-geral da Secretaria da Agricultura do Paraná, Newton Pohl Ribas, denunciou ontem ter recebido uma proposta de técnicos do Ministério da Agricultura para que o Estado assumisse ter focos de aftosa, apesar de os primeiros resultados de exames do Laboratório Nacional da Agricultura, de Belém (PA), apontarem o contrário. O objetivo seria recuperar a credibilidade internacional do Brasil, em razão da demora na divulgação de um laudo conclusivo. A suspeita da existência de foco de aftosa no estado foi levantada em 15 de outubro. O Ministério da Agricultura divulgou nota, logo depois de a denúncia vir a público, na qual repudia ¿veementemente¿ as declarações do diretor geral da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná.

De acordo com Ribas, a proposta foi feita na quarta-feira da semana passada, durante uma reunião em Brasília, da qual não participaram nem o ministro Roberto Rodrigues nem o diretor de Defesa Agropecuária, Gabriel Maciel.

¿Era uma sugestão. Seria mais fácil para o ministério, frente aos procedimentos que teria de realizar para resgate da imagem do ministério, do Brasil, do mercado da carne etc etc etc¿, afirmou.

¿O grande problema é que o Lanagro demorou para nos colocar nas mãos os laudos e essa demora está sendo interpretada por muitos setores como injustificável, porque hoje, com a metodologia que existe, em quatro ou cinco dias está resolvido o quadro.¿

Além da não existência de um laudo oficial até agora sobre a existência ou não da febre aftosa no Paraná, também contribuiu para a queda da credibilidade a demora na notificação dos casos ocorridos em Mato Grosso do Sul.

O diretor-geral afirmou que a proposta foi prontamente rejeitada, porque todos os laudos que tinha até aquele dia eram negativos. ¿Dentro do quadro que eu tinha, como profissional da área, como médico veterinário, a resposta foi não. Nós não admitimos, nós não aceitamos. Vocês me mostrem um laudo positivo e a gente muda de posição.¿

A mesma indignação foi mostrada pelo presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados, Péricles Salazar. ¿O Paraná desconfia que os técnicos do ministério querem achar a todo custo a febre aftosa no Estado¿, afirmou. ¿Parece que estão torcendo para que os laudos dêem positivo para justificar ações do ministério e a incompetência.¿ Para Salazar, há ¿interesses poderosos¿ de empresas de outros Estados influenciando. ¿Querem tornar o Paraná uma ilha de intranqüilidade total.¿

MINISTÉRIO

Após negar com ¿veemência¿ a acusação do Paraná, o Ministério informou que ¿nunca foi feita proposta tão absurda quanto a anunciada hoje pelo secretário Newton Pohl Ribas¿.

Ainda segundo a nota, causou surpresa que essas declarações tenham sido dadas após uma reunião ocorrida na última terça-feira, em Brasília, durante a qual foram acordados procedimentos entre o Ministério e a Secretaria no que se refere à investigação de suposta ocorrência de aftosa no Paraná.

Na reunião, que, segundo informa a nota do Ministério, durou cerca de seis horas, ¿em nenhum momento tratou-se da referida proposta anunciada hoje pelo secretário¿.