Título: Presidente teria 'prometido tomar providências'
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Nacional, p. A4

A secretária especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura de São Paulo, Mara Gabrilli, aguarda há dois anos e 8 meses uma resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria se comprometido a "averiguar e tomar providências" sobre o suposto esquema de corrupção instalado na prefeitura de Santo André. "Ninguém fez absolutamente nada. Nunca tive uma resposta", conta a secretária. Em 23 de março de 2003, Mara, que é tetraplégica, estacionou sua cadeira de rodas diante do prédio onde mora o presidente, em São Bernardo do Campo. Não sairia de lá antes de ser recebida. Lula permitiu que ela subisse até seu apartamento, esteve reunido com Mara por 40 minutos ao lado da primeira-dama, Marisa Letícia, e três assessores. "Fui pedir uma intervenção federal em Santo André. Contei como era o esquema, quem cobrava a propina, e como a prefeitura tirou a licença para a empresa da minha família (Expresso Guarará) operar algumas linhas em represália ao fato de meu pai (Luiz Alberto Angelo Gabrilli Filho) não ter pago propina a partir de certo momento", relatou Mara.

O presidente ouviu friamente, disse ela. Não pareceu surpreso, mas fazia perguntas "como se nunca tivesse ouvido falar do tema" e "queria mudar de assunto a todo momento". Apesar da promessa que fez, Mara acredita que Lula preferiu "abafar o caso".

Na saída, ela lembra ter recebido a recomendação de um assessor de Lula - cujo nome não se recorda - para que não revelasse à imprensa o verdadeiro teor da conversa com o presidente. "Ele pediu que eu dissesse aos jornalistas que estavam de plantão na porta do prédio que a conversa tinha sido sobre reabilitação, mas eu contei a verdade."

Mara Gabrilli revelou a Lula detalhes do suposto esquema; como o empresário Sérgio Gomes da Silva recolhia o dinheiro da propina todo mês; como o então secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira, coordenava o esquema dentro da prefeitura; como a cobrança cessou após a morte do prefeito Celso Daniel. Segundo ela, o presidente "não teve uma postura de quem realmente recebia uma informação importante e deveria tomar uma atitude". Mara acredita que foi recebida porque estacionou sua cadeira de rodas à porta do presidente. "Fui ouvida para não provocar escândalo na rua", supõe ela. "Acho que ele imaginou que eu ficaria satisfeita só pelo fato de ser recebida."

À época, Mara dirigia o Projeto Próximo Passo. Lula pediu à primeira-dama que visitasse a ONG. "Mas a Marisa não foi e até hoje não recebi nem a nossa foto que tiraram no apartamento." No ano passado, Mara disputou pelo PSDB, sem sucesso, uma vaga na Câmara Municipal. Foi então convidada pelo prefeito José Serra para assumir a secretaria.