Título: Lula foi avisado de esquema em Santo André, diz empresária
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Nacional, p. A4

Em depoimento prestado ontem à CPI dos Bingos, a empresária Rosângela Gabrilli, dona de empresas de ônibus de Santo André, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado sobre o esquema de corrupção montado naquela cidade do ABC paulista. Quem teria transmitido a informação foi Mara Gabrilli, irmã de Rosângela, atualmente secretária municipal em São Paulo. Segundo a empresária, depois do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002, Mara se postou na frente do edifício em que Lula mora, em São Bernardo do Campo, e disse que só sairia depois de falar com ele. Mara é tetraplégica e Rosângela avalia que esse fato contribuiu para que sua irmã fosse recebida pelo presidente.

"Acho que, pela situação física dela, foi prontamente atendida", disse a depoente, aos parlamentares da CPI. "Lula disse que iria averiguar, mas não tivemos nenhuma resposta."

Diante dos senadores, a empresária apontou Klinger Luiz de Oliveira Souza, secretário de Serviços Municipais de Santo André na época do assassinato, como o responsável pela arrecadação de propina para o PT.

Rosângela relatou que Celso Daniel, quando assumiu a prefeitura de Santo André, em 1997, chamou o pai dela, dono de empresa de transporte, para informar que Klinger "administraria a cidade dali em diante".

Ainda de acordo com a empresária, Daniel teria dito que iria cuidar apenas de assuntos políticos. Ela disse que Klinger se reuniu com o seu pai na companhia dos empresários Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, ambos sob suspeita de envolvimento no assassinato. Nesse encontro, relatou a empresária, Klinger avisou "que teria de ser recolhido das empresas, todo dia 30, o dinheiro que seria levado para o PT".

A contribuição seria calculada com base no número de ônibus de cada uma delas.

MINISTÉRIO PÚBLICO

Rosângela lembrou que, logo após a morte de Celso Daniel, compareceu ao Ministério Público para depor, durante nove horas, sobre o esquema de arrecadação de propinas.

Alguns dias depois, a pessoa que todo dia 30 passava recolhendo as contribuições avisou que a empresa de Rosângela não precisaria mais efetuar os pagamentos.

"Ele me avisa que não haveria mais arrecadação: 'Esquece dia 30 porque agora não tenho nem para quem passar.' Eu esqueci! Não sei se o esquema continuou nas outras empresas", relatou Rosângela, ao lembrar que Klinger continuava secretário da prefeitura.

Ao ser indagada se Klinger, Sombra e Ronan formavam o "tripé" do esquema de corrupção, a empresária confirmou que eles estavam à frente das irregularidades. Ela negou ter qualquer forma de relacionamento com o atual chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, que na ocasião também trabalhava na prefeitura de Santo André.

Rosângela confirmou, ainda, que em duas ocasiões depositou o dinheiro na conta de Sombra.