Título: Uma nova realidade exigirá nova ética
Autor: Otávio Dias
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Interação entre objetos está prevista para dentro de 10 anos, mas já causa discussões

TÚNIS - De acordo com o relatório A Internet das Coisas, o mundo virtual mapeará o mundo real. Todas as coisas no ambiente terão identidade no ciberespaço, o que permitirá a comunicação e a interação entre pessoas, entre objetos e entre pessoas e objetos, numa escala impressionante. A nova realidade já é irreversível e deve se tornar predominante em 10 anos. Segundo o relatório da UIT, órgão ligado às Nações Unidas, vai acontecer independente da vontade dos homens e provocará discussões sobre questões éticas e de privacidade.

"Quando as coisas agirem sem nossa intervenção direta, o que acontecerá com nossas responsabilidades pessoais?", perguntou Jonathan Murray, representante da Microsoft. Um carro inteligente, capaz de se locomover sem motorista e de trocar informações com outros carros, por exemplo: "Se houver um erro e acontecer um acidente, quem será responsável?"

John Gage, da Sun Microsystems, levantou outra questão: "Cada vez que você faz uma pesquisa no Google, essa informação está registrada para sempre. Com o tempo, o Google saberá quais são seus interesses, seus gostos, suas necessidades."

Logo em seguida, no entanto, ele relativizou o problema: "Tudo isso levanta questionamentos, mas ,desde sempre, quando falamos algo para uma outra pessoas, presumimos que ninguém mais está ouvindo, o que em geral não é verdade."

Nesse mundo em que as coisas passarão a agir "pelas costas do homem", surgirá um outro conceito importante, o de "diversidade tecnológica".

"Assim como a diversidade biológica no meio ambiente, as coisas terão de ser diferentes porque assim não falharão ao mesmo tempo", disse Olivier Baujard, da Alcatel.

Para Nicholas Negroponte, do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT) haverá uma "cacofonia" de objetos conversando entre si e ajudando uns aos outros para que não haja um colapso. "Quando houver uma falha tecnológica, a tendência é de as conseqüências serem menos sérias do que são atualmente."

Walid Moneimne, da Nokia, acha as preocupações que surgem na sociedade com o surgimento de novas tecnologias não podem impedir que elas sejam utilizadas. "Elas têm de ser bem usadas."

"Chegamos a um ponto em que a tecnologia precisa ser usada para tirar as coisas da frente do homem", disse. Os "objetos inteligentes" se encarregarão de fazer as coisas acontecerem. "A tecnologia será humanizada."

A íntegra do relatório está disponível no site ww.itu.int/osg/spu/publications/internetofthings/.