Título: Objetos vão se comunicar entre si, criando uma internet das coisas
Autor: Otávio Dias
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

Relatório da ONU mostra os avanços tecnológicos e prevê uma era na qual humanos serão minoria na rede de computadores

TÚNIS - Nos próximos anos, os objetos passarão a se comunicar entre si e com os seres humanos, criando uma "internet das coisas". Esse mundo novo, que parece um filme de ficção científica, foi previsto em um relatório da União Internacional de Telecomunicação (UTI), divulgado ontem em Túnis, durante a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação. "Estamos nos encaminhando para uma nova era de onipresença, em que os usuários da internet serão contados em bilhões e onde os humanos se tornarão minoria como geradores e receptores de tráfego", afirma o relatório A Internet das Coisas. Isso se tornará possível como conseqüência da união de três tecnologias, que já existem atualmente mas ainda são empregadas separadamente: identificação por rádio freqüência (RFID), sensores e nanotecnologia (que viabiliza a fabricação de objetos bem pequenos).

O RFID permite determinar a localização de um determinado objeto e seguir seus "passos". Os sensores dão informações sobre a situação em que ele se encontra e os elementos que agem sobre o objeto naquele momento. E a nanotecnologia possibilita instalar esse tipo de tecnologia nos objetos mais diminutos.

As tecnologias de RFID e sensores possibilitam não só enviar informações do objeto para um receptor, como "dialogar" com ele, assim como com outros "objetos inteligentes".

Surge aí um conceito fundamental desse novo mundo previsto no relatório da ONU: os objetos que conhecemos e que foram criados pelo homem não serão mais inanimados. Ou seja, não esperarão um estímulo disparado pelo homem para entrar em ação. Eles realizarão as tarefas que lhe cabem sem a necessidade de uma intervenção humana, mas quando sua "inteligência" assim o determinar.

Para isso, basta que sejam equipados com RFID e sensores e estejam conectados a redes de conexão sem fio, o que também já é realidade com tecnologias como Bluetooth, Wi-Fi e WiMax, entre outras.

Mas o que isso significará em nossas vidas? Nicholas Negroponte, diretor do Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), deu um bom exemplo, na coletiva de lançamento do relatório.

"Um telefone, por exemplo, não precisará mais tocar, já que isso é absolutamente burro. Quando alguém ligar para você, o telefone o localizará, onde quer que você esteja, e se comunicará com o dispositivo que estiver mais próximo de você para avisá-lo." Segundo Negroponte, esse dispositivo poderá ser qualquer coisa, como, por exemplo, a maçaneta da porta de sua casa, que poderá informá-lo de que há uma ligação urgente para você.

A maçaneta, continua, também poderá "receber" uma encomenda urgente ou impedir a entrada de estranhos. "Os objetos poderão fazer muitas outras coisas além daquelas a que estamos acostumados. Eles serão muito mais espertos."

Negroponte disse também que os "objetos inteligentes" poderão se comunicar um com os outros, formando uma rede. "O objeto A enviará uma mensagem para o B, que entrará em contato com o C, e assim por diante, até que a mensagem chegue ao destino." De acordo com Negroponte, os objetos "saberão sobre si mesmos, terão múltiplas personalidades se comunicarão entre si".

De acordo com John Gage, da Sun Microsystems, "até agora, a tecnologia permitiu a criação de objetos e máquinas que são uma extensão do ser humano. A partir de agora, homem e coisa trabalharão em simbiose". E previu: "As coisas conversarão e tomarão decisões pelas nossas costas."