Título: Negras ganham 30% do salário de homem branco
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

Estudo do Ipea reafirma desigualdades sociais no País

BRASÍLIA - O salário médio de um homem negro no Brasil não chega à metade do que recebe um homem branco. Uma mulher negra tem rendimentos que só chegam a 30% do salário de um homem branco. Os dados coletados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, enquanto ser negro ajuda a piorar a situação social de uma pessoa, ser mulher e negra a põe na última linha social. A pesquisa Retratos da Desigualdade foi preparada pelo Ipea com base em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Os dados salariais de 2003 mostram que a média de rendimentos de um homem branco chega a R$ 881,11. Na outra ponta, uma mulher negra recebe, em média, R$ 279,70.

Apesar de terem escolaridade maior que os homens, as mulheres - tanto brancas quanto negras - recebem salários inferiores. As mulheres negras ainda têm mais dificuldades de encontrar empregos melhores e com carteira assinada do que as brancas.

DOMÉSTICAS

Os dados mostram que 21% das mulheres negras que trabalham estão empregadas em serviços domésticos e apenas 23% delas têm carteira assinada. Já entre as mulheres brancas apenas 12,5% são empregadas domésticas e 30% delas têm registro na carteira.

"É uma perversa manifestação da dupla discriminação que atinge mulheres negras e faz com que estas, vítimas do racismo e do sexismo, encontrem-se concentradas nos piores postos de trabalho, recebendo os menores rendimentos, sofrendo com as relações informais de trabalho e ocupando as posições de menor prestígio na hierarquia profissional", diz o estudo apresentado ontem pelo Ipea.

SAÚDE

A pesquisa revelou, ainda, que a maior dificuldade de acesso da população negra aos serviços de saúde faz com que algumas doenças, como diabetes e hipertensão, apareçam com mais freqüência nessa população.

Enquanto 28,8% dos brancos de 45 a 59 anos têm problemas de hipertensão, a doença atinge 32,3% dos negros. As mulheres negras são ainda mais atingidas pela doença que os homens: 35% delas têm a doença, ante 24,6% das mulheres brancas. As maiores vítimas da hipertensão são as mulheres negras acima de 60 anos (57,5%).

O acesso à saúde e as dificuldades sociais se refletem na expectativa de vida. Nos dados mais recentes, de 2000, a expectativa de vida de uma mulher branca era de 73,8 anos. De uma negra, 69,5 anos. Entre os homens brancos, 68,2 anos e entre os negros, 63,2 anos.