Título: Prestígio de Lula sobrevive entre pobres e no Norte e Nordeste
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Nacional, p. A11

O que seria do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se não fossem o Nordeste, o Norte e a faixa da população que ganha até 5 salários mínimos? O prestígio do presidente já não vai bem das pernas, mas sem esses pedaços do País estaria bem pior, informa a pesquisa CNT/Sensus divulgada anteontem. O que resta de prestígio a Lula está concentrado naquelas duas regiões e no andar mais baixo da sociedade, já que, nos andares superiores, a rejeição vai aumentando cada vez mais. Lula impera sobre o Norte e o Nordeste, onde uma folgada maioria o aprova, a despeito dos escândalos que vergastam seu governo e seu partido há seis meses. Na média brasileira, 46,7% da população aprova o presidente e 44,2% o desaprova, mas o Nordeste empurra os números para cima: lá, a taxa de aprovação sobe para 59% e a desaprovação, cai para 34,5%. No Norte, a aprovação chega a 54,6% e a desaprovação não passa de 38,8%.

PONTA-CABEÇA

Saindo dessas regiões, a avaliação de Lula vira de ponta-cabeça. No Centro-Oeste, região que mais o rejeita, a aprovação cai para apenas 34,3% - pouco mais que um terço da população - e impressionantes 56,2% o desaprovam. Na Região Sul, a maioria do eleitorado (50,3%) desaprova o presidente e 41,9% o aprovam. E o Sudeste não é muito diferente: desaprovação de 47,5% e aprovação de 40,8%.

A faixa salarial que dá melhor aprovação a Lula é o grupamento que ganha até 1 salário mínimo, onde se concentra a grande maioria dos beneficiados pelos programas sociais do governo. Nela, a aprovação do presidente chega a 52,6% e desaprovação é de 37,3%. A faixa imediatamente superior, que ganha entre 1 a 5 salários mínimos e freqüenta menos os cadastros dos programas sociais do governo, já apresenta um quadro bem equilibrado: uma aprovação de 46,2% e uma desaprovação de 45,2%.

Lula perde feio em todas as faixas de renda subseqüentes. Entre os que ganham entre 5 e 10 salários mínimos, a aprovação é de 34,1% e a desaprovação, de 57,6%. Nos dois segmentos superiores, Lula é rejeitado por mais de dois terços da população comportada nas faixas. Entre 10 e 20 salários mínimos, a desaprovação é de 62,3% e a aprovação, de 30,2%; acima de 20 salários mínimos, a aprovação é de 30,8% e a desaprovação, de 46,2%.

Os melhores índices do presidente são conseguidos entre os eleitores beneficiados pelos programas sociais do governo. Entre eles, Lula é aprovado por 58,4% e desaprovado por apenas 33,8%. Entre os que sabem dos programas sociais e conhecem pessoas beneficiadas por eles, a aprovação cai um pouco (50,9%) e a desaprovação sobe (40,7%). Entre os que não são beneficiados e nem conhecem quem seja, a aprovação é de 36% e a desaprovação chega a 53,7%. Para Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, os programas sociais do governo estão operando como um êmbolo a bombear o prestígio de Lula.

MULHERES CONTRA

O eleitorado feminino está mostrando muito menos paciência com Lula que o masculino. Entre as mulheres, 43,5% aprovam Lula e 46,3% o desaprovam; entre os homens a paciência com o presidente resiste bem mais: 50,1% o aprovam e 42% o desaprovam. Nas faixas de idade, a aprovação maior está entre os mais velhos e a maior desaprovação está nas faixas inferiores (16-17 anos) do eleitorado.

Nas simulações nacionais contra os potenciais candidatos de 2006, Lula perde para o prefeito José Serra e ganha do governador Geraldo Alckmin por uma margem de 8,6 pontos porcentuais. Mas no Nordeste a coisa muda de figura: lá, Lula tem 49,6%, contra 33,6% de Serra; e chega a 56,1% contra apenas 17,2% de Alckmin.

Já a Região Norte dá uma aprovação alta ao presidente, mas não vota nele em peso: contra Serra, Lula perderia por 47,4% a 41,4%; contra Alckmin, o placar seria de 44,7% a 36,8% para Lula. Na simulação nacional, quem dá a vitória a Serra são as mulheres, porque a maioria dos homens está com Lula.