Título: Chávez surge na política mexicana
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Internacional, p. A22

Para analistas, líder venezuelano apoiará o candidato López Obrador Joaquim Ibarz

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, irrompeu com força na campanha eleitoral mexicana. Ao provocar o confronto com o presidente do México, Vicente Fox, na semana passada, ele se transformou num personagem na política doméstica. O Partido da Revolução Democrática (PRD), que apresenta Andrés Manuel López Obrador como candidato presidencial, dedicou uma despedida de herói ao embaixador venezuelano, Vladimir Villegas, que se viu obrigado a deixar o México. Vários analistas mexicanos destacam que Chávez e Fidel Castro apoiarão com firmeza a candidatura de López Obrador, que vêem como potencial aliado. O primeiro antecedente ocorreu em 2004, quando o então embaixador venezuelano no México, Lino Martínez, elogiou López Obrador e citou a revolução bolivariana como exemplo para o México. Agora é o PRD de López Obrador que apóia Chávez em seu confronto com Fox. O interesse da Venezuela e Cuba na América Latina se concentra no México e, em especial, na derrota da direita governista. "Está claro que Chávez e Fidel, numa eventual vitória de López Obrador, apostam na incorporação do México ao corredor ideológico contra o império do norte", observa Ricardo Alemán no jornal El Universal. "Isso explicaria a simpatia e até mesmo o suposto apoio a López Obrador vindos de Cuba e da Venezuela", afirma.

Em declarações a La Vanguardia, Roberto Madrazo, candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), acusou Chávez de interferir na eleição mexicana. "Estou convencido de que Chávez quer interferir em nosso processo eleitoral, como faz no Equador e na Bolívia", disse Madrazo. "López Obrador e Chávez têm muitas semelhanças. Vejo um autoritarismo em ambos, uma posição irredutível de donos da verdade absoluta, um confronto permanente com o capital, uma política social assistencialista e uma falta de respeito à legalidade."

Já o ex-chanceler mexicano Jorge Casta¿eda afirmou que Chávez "insulta Fox e o povo mexicano com a ingerência venezuelana no processo eleitoral do México". Para ele, "Chávez está orquestrando uma campanha na América Latina para se intrometer e ser protagonista nos processos eleitorais da Bolívia, Colômbia, México e Nicarágua. Chávez atua na América Latina movido por quem sempre balança o berço neste continente, o senhor Fidel Castro".

O confronto com Fox é conveniente para Chávez, pois lhe permite manter um perfil de suposta liderança regional revolucionária, inimiga de imperialismos. No fundo, ele pretende barrar Fox no Mercosul. Desbocado e apoiando-se nas muletas de seus petrodólares, Chávez pretende assumir uma liderança regional, ainda que tenha de polarizar o continente.