Título: Subsecretário americano ataca Chávez
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Internacional, p. A22

Thomas Shannon disse que a democracia corre perigo na Venezuela e que o governo chavista se apropriou das instituições

WASHINGTON - Numa audiência ante a Comissão de Relações Internacionais da Câmara dos Representantes dos EUA, o subsecretário de Estado para a América Latina, Thomas Shannon, listou ações do governo venezuelano que, segundo ele, ameaçam a democracia no país. "Há um crescente consenso hemisférico e internacional que a democracia da Venezuela corre grande perigo", disse Shannon aos deputados, em sua primeira audiência desde que assumiu o cargo, em outubro. "Não é novidade que o assalto interno às instituições democráticas venezuelanas foi contínuo no último ano", prosseguiu, citando a ampliação do controle por parte do governo de Hugo Chávez de todos os níveis dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, das entidades eleitorais e do organismo correspondente ao Ministério Público.

"A administração (americana) está trabalhando multilateralmente na Organização dos Estados Americanos (OEA), com a União Européia e com o Conselho da Europa, entre outros, para respaldar a sociedade civil venezuelana e denunciar os abusos contra a democracia", disse o subsecretário, que até agora vinha evitando declarações mais duras sobre o governo de Chávez. "Também estamos consultando nossos sócios no hemisfério e na Europa para sensibilizá-los sobre a ameaça que representa para a estabilidade regional a compra de armas por parte do governo da Venezuela e seu apoio a movimentos políticos radicais."

Shannon se referia à compra pela Venezuela de dezenas de milhares de fuzis Kalashnikov e aviões militares da Rússia.

"Na própria Venezuela estamos trabalhando para preservar o espaço político e cívico para grupos que permanecem sob crescente risco", assinalou. Um relatório do Departamento de Estado ilustra esse ponto com o caso dos dirigentes da organização não-governamental Súmate, María Corina Machado e Alejandro Plaz, impedidos de viajar para os EUA para participar da audiência. Ambos são acusados na Venezuela de conspirar para derrubar o governo de Chávez, por terem supostamente recebido US$ 31 mil da Fundação Nacional para a Democracia, um organismo do Congresso americano.

A audiência abriu uma nova série de troca de acusações entre deputados republicanos e democratas. Os oposicionistas atribuíram o papel cada vez mais influente de Chávez no continente à falta de uma política mais efetiva do governo de George W. Bush para a América Latina. "O que vimos na Cúpula das Américas (entre 4 e 5 de novembro, em Mar del Plata) foi um maciço fracasso de liderança (dos EUA)", disse o deputado democrata Robert Menéndez. "Foi a maior evidência da grave falta de política para a região."

Os republicanos rejeitaram a acusação e apontaram o autoritarismo de Chávez e suas relações com países como Cuba e Irã como responsáveis pela ameaça à democracia.

No próximo dia 4, os venezuelanos vão às urnas para renovar a Assembléia Nacional - Parlamento unicameral do país. Segundo as pesquisas, o governo de Chávez deve ampliar ainda mais o controle do Legislativo.

Na segunda-feira, os governos da Venezuela e do México chamaram de volta seus embaixadores, no auge de um bate-boca entre Chávez e seu colega mexicano, Vicente Fox. Durante a Cúpula das Américas, Fox defendeu com veemência a instalação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelos EUA e rejeitada por Chávez e pelos países do Mercosul. O presidente da Venezuela qualificou a posição de Fox de "entreguista" e chamou o presidente mexicano de "cachorrinho do império".

Ainda ontem, o presidente do Instituto Nacional de Terras da Venezuela, Richard Vivas, anunciou que a "guerra contra o latifúndio" declarada por Chávez já interveio em 700 mil hectares de propriedades declaradas "ociosas" e espera ocupar outro 1,5 milhão de hectares em 2006.