Título: Briga política tira memorial de Sarney
Autor: Ernesto Batista
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Nacional, p. A17

Assembléia do Maranhão aprova projeto que reverte doação de prédio histórico e acervo à fundação do senador em São Luís

SÃO LUÍS - Em mais um round da briga entre o governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares (PSB-MA), e o senador José Sarney (PMDB-AP), os deputados estaduais maranhenses aprovaram ontem, em sessão extraordinária, o projeto de lei 068/05 que reverte a doação do Convento das Mercês ¿ prédio histórico tombado de 6 mil metros quadrados e mais de 350 anos ¿ e seu acervo, que inclui mais de 150 mil documentos e obras raras, para a Fundação José Sarney, mantida pelo parlamentar. Na véspera de o projeto entrar em pauta na Assembléia Legislativa do Maranhão, o governador teve reunião com 26 dos 42 deputados estaduais.

O encontro serviu para alinhar o posicionamento do governo e da bancada governista sobre a questão. No entanto, na hora da votação, que foi nominal, 28 deputados votaram pela aprovação do projeto de lei. Apenas 11 votaram contra e 3 não compareceram à sessão.

SINAL DE PODER

O convento é um dos 1.400 prédios construídos no estilo colonial que foram tombados no centro histórico de São Luís e faz parte do acervo arquitetônico considerado pela Unesco patrimônio da humanidade. A transferência da propriedade do imóvel tombado para uma entidade diretamente ligada ao senador peemedebista sempre foi apontada como um dos maiores símbolos do poder do ex-presidente José Sarney no Estado.

O senador pretendia transformar o monumento histórico ¿ que abriga as fundações da Capela de Nossa Senhora das Mercês, onde o padre Antônio Vieira proferiu, no século 18, o Sermão aos Peixes, uma de suas obras mais famosas ¿ em um memorial. Também queria ser enterrado lá, quando morresse. A área que seria o túmulo do ex-presidente estava até reservada: no meio de um gramado, ladeada por palmeiras imperiais e em frente ao Rio Bacanga. O local da sepultura está recoberto por granito escuro.

No final dos anos 80, antes de ser repassado à Fundação da Memória Republicana ¿ hoje Fundação José Sarney ¿, o prédio havia sido reformado pelo governo do Estado, que gastou cerca de US$ 9,5 milhões na obra e planejava transformar o convento em um centro de convenções.

Hoje, parte do prédio é ocupada pelos escritórios da Fundação José Sarney. Outra ala é ocupada por um memorial, onde está guardado o acervo de documentos da época em que Sarney foi presidente da República. No entanto, outras salas e auditórios eram alugados por até R$ 7 mil para convenções, casamentos, seminários e shows.

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