Título: Ronan caiu em contradição, diz MP
Autor: Rosa Costa, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Nacional, p. A13

Promotor que acompanhou depoimento na CPI citou o fato de empresário ter afirmado que fez "vários" pagamentos a Sombra

BRASÍLIA - O promotor Roberto Wider, um dos encarregados do inquérito sobre o suposto esquema de corrupção na prefeitura de Santo André na gestão do petista Celso Daniel, apontou contradições no depoimento do empresário Ronan Maria Pinto, ontem, à CPI dos Bingos. Wider disse que Ronan se contradisse várias vezes em relação ao depoimento à Justiça. Citou como exemplo o fato de ele agora afirmar que fez "vários" pagamentos a Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, por serviços prestados à Viação Vila Industrial, para justificar os depósitos feitos para Sombra a título de propina. "Os empresários tinham de depositar R$ 100 mil por mês para o esquema. Normalmente, era dinheiro em espécie, mas houve um desarranjo do sistema e resolveram depositar na conta do Sérgio", explicou Wider.

Segundo o promotor, que acompanhou o depoimento, Ronan, o ex-secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira e quatro outros empresários foram indiciados por formação de quadrilha e concussão.

Ronan disse à CPI ter achado "muito estranha" a morte de sete possíveis testemunhas do assassinato de Daniel, em janeiro de 2002.

Ele desconversou quando o relator Garibaldi Alves (PMDB-RN) pediu que opinasse sobre a motivação do crime. "Vejo na imprensa que um dia se fala que o caso é político; outro, diz que é comum", disse. Ronan afirmou que a contradição entre o que afirma o Ministério Público, de que o crime foi encomendado, e a Polícia Civil de São Paulo, de que foi um crime decorrente do seqüestro, tampouco ajuda a orientar sua opinião. "Acho tudo muito estranho", reiterou.

Quando perguntado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) se Sombra seria capaz de matar Celso Daniel, Ronan respondeu: "Acho que não. Se isso ocorreu, é um fato muito estranho".

Apesar das provas em poder do Ministério Público, o empresário negou que pagava propina à prefeitura. Foi mais longe, ao declarar que "nunca" foi extorquido, jamais fez doação para campanha eleitoral e nunca foi assediado por candidato ou partido pedindo dinheiro para se eleger.

"Muito se fala que Ronan Maria Pinto se locupletou de achaques a empresas de ônibus, mas que já era dono de 50% do transporte da cidade quando Daniel foi eleito", alegou, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR)pediu explicações para as remessas feitas para uma offshore no Uruguai por duas empresas ligadas a Ronan, a Agipar e a Roanake Holding. Os dados foram levantados pela CPI do Banestado. De acordo com o senador, duas parcelas do total remetido, de R$24,7 milhões, retornaram ao País na fase das campanhas eleitorais, sendo R$ 43,5 milhões em junho de 2001 e R$ 8,8 milhões em agosto de 2002. Ronan negou ter mandado dinheiro para fora do País.