Título: Ruralistas vão impor relatório alternativo
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Nacional, p. A15

Os parlamentares da bancada ruralista que participam da CPI da Terra bateram o martelo. Na reunião da comissão programada para hoje, em Brasília, o grupo vai derrubar todo o texto do relator, deputado João Alfredo (PSOL-CE), e aprovar um documento alternativo, preparado pelo coordenador do grupo, deputado Abelardo Lupion (PFL-PR). Será uma virada radical: enquanto o relatório responsabiliza a União Democrática Ruralista (UDR) pela violência no campo, o texto de Lupion deve acusar o Movimento dos Sem-Terra (MST). "É inaceitável o fato de o relator ter produzido um documento sobre violência na zona rural sem ter mencionado sequer uma vez a violência das invasões de terras comandadas pelo MST", disse Lupion, em entrevista ao Estado, ao explicar as razões dos ruralistas. "Como ignorar que se trata de uma violação da Constituição, que garante o direito à propriedade privada? Como ignorar a situação dos proprietários que recebem no peito a agressão praticada por um grupo que não tem figura jurídica, não tem face legal e age ao arrepio da lei?"

A certeza dos ruralistas de que podem impor seu relatório baseia-se em números: eles têm 15 parlamentares na CPI, contra 8 simpáticos ao MST. Se for necessário, também contam com do voto do presidente da CPI, o senador paranaense Álvaro Dias (PSDB).

A possibilidade da imposição de um novo relatório pelos ruralistas já tinha sido prevista pelos parlamentares do outro grupo, que na semana passada chegaram a pedir ao governo que mobilizasse votos da base aliada para amenizar o impacto da derrota. O deputado Adão Pretto (PT-RS) e o senador Sibá Machado (PT-AC) chegaram a prever que outro relatório seria imposto. Também disseram que temiam o impacto negativo que essa medida poderia ter para os movimentos sociais.

SEM NEGOCIAÇÃO

Segundo Lupion, o documento de João Alfredo irritou profundamente os ruralistas e não tem margem de negociação: "O relator produziu um texto provocativo, com a intenção de se tornar vítima. Ele premia o invasor e criminaliza o produtor. Em nenhum momento procurou o consenso, nem quis ouvir os partidos presentes na CPI. Produziu uma peça de campanha, um texto para não ser aprovado."

Ainda de acordo com as explicações do deputado paranaense, um dos mais radicais opositores do MST no Congresso, a primeira providência a ser tomada na reunião de hoje será votar contra o relatório de João Alfredo. Em seguida apresentarão um voto em separado, com a proposta de um novo relatório. "Vamos derrotar o advogado do MST", disse Lupion.