Título: Juiz prende Pinochet por corrupção
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Internacional, p. A18

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet foi posto ontem em prisão domiciliar por fraude fiscal, falsificação de passaporte e outros crimes relacionados às contas secretas que ele movimentava no exterior com nomes falsos. O juiz Carlos Cerda, que também é o promotor do caso, ordenou a prisão e em seguida estipulou uma fiança equivalente a US$ 23 mil. Foi a primeira vez que Pinochet teve decretada prisão por um delito de corrupção. O ex-ditador, que completa 90 anos amanhã, havia sido acusado em outros dois processos no país nos últimos cinco anos, ambos por delitos de violação de direitos humanos.

Esses casos, porém, foram arquivados pelos tribunais, que acataram a tese de que Pinochet está incapaz de enfrentar um julgamento em conseqüência de danos cerebrais causados por sucessivos pequenos derrames.

Os problemas de saúde de Pinochet também o livraram dos processos abertos contra ele pelo juiz espanhol Baltasar Garzón, pelos quais esteve detido e depois retido na Grã-Bretanha de outubro de 1998 a janeiro de 2000.

Há três semanas, no entanto, uma equipe de especialistas nomeada pela Justiça determinou que Pinochet está mentalmente apto para enfrentar um julgamento pelos crimes de uma ação repressiva denominada Operação Colombo, na qual 119 opositores foram mortos em 1975.

Advogados de grupos de direitos humanos disseram que Pinochet vinha simulando sintomas de problemas mentais para escapar dos julgamentos. A decisão da Justiça sobre se indicia ou não o ex-ditador pela Operação Colombo é esperada para os próximos dias.

O caso das contas no exterior foi aberto em 2004 e, desde então, foi detectada a movimentação de pelo menos US$ 27 milhões em 130 contas. A mulher e um filho de Pinochet - Lucía Hiriart e Marco Antonio - foram indiciados como cúmplices da movimentação ilegal de recursos em agosto.

A nova detenção de Pinochet se dá em plena campanha para a eleição presidencial chilena, cujo primeiro turno está marcado para o dia 11. Mas a influência política do ex-ditador praticamente foi reduzida a zero, principalmente depois das denúncias de corrupção.