Título: BC faz o esperado e juro cai 0,5 ponto
Autor: Renée PereiraGustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B1

O Comitê de Política Monetária (Copom) mais uma vez manteve o conservadorismo e reduziu a taxa básica da economia (Selic) em apenas 0,5 ponto porcentual, de 19% para 18,5% ao ano. A decisão, unânime, confirmou a aposta do mercado, mas ignorou alertas de que haveria espaço para um corte maior, já que a inflação não preocupa, a atividade econômica está em queda e o real, supervalorizado. Além disso, a taxa real está extremamente elevada. Mesmo com a redução de ontem, o Brasil continua na liderança dos maiores juros reais do mundo, com 13,1%. No breve comunicado após a reunião, os dirigentes do Banco Central (BC) afirmaram que a redução da Selic para 18,5% ao ano, sem viés, dá "prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciada na reunião de setembro de 2005". Apesar de os analistas apostarem no conservadorismo do BC, muitos viam espaço para um recuo mais forte dos juros, de pelo menos 0,75 ponto porcentual.

"Fica difícil entender por que o Copom não consegue ser um pouco mais agressivo, já que o quadro é confortável", questiona o economista Marcelo Allain, professor do MBA Fipe/USP. Segundo ele, com a elevada liquidez do mercado externo, se nada for feito, o dólar poderá cair bem abaixo dos R$ 2,20. "O instrumento do BC de realizar leilões de swap reverso (mecanismo de intervenção no mercado de câmbio) é muito menos adequado para conter a valorização do real do que uma aceleração da queda dos juros."

O economista da Corretora Ágora Senior, Flávio Serrano, também está entre os que enxergam um quadro favorável à redução mais acelerada da Selic. Mas apostou na queda de apenas 0,5 ponto porcentual dos juros ontem, já que a ata da última reunião do Copom não sinalizava para uma decisão mais ousada.

Para o encontro de dezembro, ele afirma que é provável que o BC reduza em 0,75 ponto a Selic. "Se continuar nesse ritmo, vamos chegar ao fim de 2006 com uma taxa de 16% ao ano. Não há problema algum em reduzir mais em um mês e menos no outro".

Logo após a reunião, o Bradesco reduziu suas taxas em várias modalidades de crédito.