Título: Financeiras vão seguir corte da Selic
Autor: Márcia De Chiara e Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B3

As financeiras deverão repassar o corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic) já nos próximos dias, prevê o presidente da Acrefi, entidade que reúne as financeiras, Érico Sodré Quirino Ferreira. Ele pondera que a redução será inexpressiva do ponto de vista econômico, mas pode ter um impacto psicológico positivo na confiança do consumidor, especialmente com a proximidade das festas de fim de ano.

Ferreira diz que esperava um corte maior na taxa básica de juros , mas argumenta que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) agiu dentro da lógica. Por causa da atual conjuntura política, o presidente da Acrefi acreditava que o governo seria mais ousado. ¿Isso demonstra que existe independência do BC, que é um bom sinal.¿

Para o vice-presidente da Federação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi), José Arthur Assunção, o Copom reiterou a força do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao manter a política gradativa de queda na taxa oficial de juros.

Segundo Assunção, apesar de já existir um clima propício para uma queda maior dos juros, esse seria o momento menos indicado. ¿A sociedade tem receio de uma possível queda do ministro da Fazenda e o abandono da política econômica¿, afirma o vice-presidente da Fenacrefi.

O comércio ficou desapontado com o corte na taxa de juros. O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, considera que a redução de 0,50 ponto porcentual atendeu à expectativa do mercado financeiro, mas foi decepcionante para a vida real.

¿A taxa continua absurdamente exagerada e não vai nem mudar as expectativas de vendas que temos para o Natal¿, diz ele. A previsão do comércio para o fim do ano é de um crescimento de 4% em relação ao mesmo período do ano passado. ¿Era necessário um corte de 1 a 1,5 ponto porcentual para uma sinalização positiva para a economia e para um crescimento de vendas maior.¿

SEM FÔLEGO

Para Afif Domingos, este será o Natal dos importados, beneficiado pelo dólar baixo, e dos bens de menor valor. O executivo observa que o crediário, que sustenta as compras de alto valor, já vem perdendo fôlego.

As vendas a prazo, embora maiores que as verificadas no ano passado, tiveram uma desaceleração no ritmo de crescimento. ¿Os juros estão altos, o consumidor está no limite de seu endividamento com o crédito consignado e ainda há o temor do desemprego.¿

Para a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), mais uma vez o Copom desapontou as expectativas do varejo. De acordo com a avaliação da entidade, com o dólar em R$ 2,20, existe espaço para quedas mais expressivas na taxa de juros que, além de reverterem a tendência de apreciação do real ante a moeda norte-americana, também reduziriam o custo da dívida pública.

A Fecomércio esperava uma redução de um ponto percentual na Selic. Na avaliação da entidade, isso não traria pressões inflacionárias porque a economia sinaliza um desaquecimento.

Segundo a nota da Fecomércio, a manutenção da Selic nos patamares atuais produz ¿ uma sensação de caminhar sem sair do lugar, pela qual passa o setor público nos últimos anos. Além disso, implica redução da capacidade de investir, de poupar e de crescer.¿