Título: `Perdemos uma janela de oportunidade¿, diz economista
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

O governo exagerou na dose do aperto monetário. Essa é a opinião de Monica Baer, economista da MB Associados. Para Monica, o governo pode ter perdido uma janela de oportunidade para reduzir os juros e promover crescimento, aproveitando-se do cenário mundial favorável, como fizeram muitos países. O governo acertou na política monetária?

Faz tempo que a política monetária está exagerada. Agora, isso ficou mais óbvio, por causa da desaceleração da atividade e da forte apreciação do câmbio. O BC não precisava ter aumentado tanto os juros, até 19,75%.

O Banco Central deveria ter começado a cortar os juros antes de setembro?

O BC deveria ter parado de elevar os juros em janeiro, quando a Selic estava em 17,75%.

Ainda dá tempo de reverter essa política?

Podemos reduzir os juros com mais força, mas o momento é ruim. Nós perdemos uma janela de oportunidade. Antes, o cenário internacional era ótimo, não havia crise política, tudo permitia uma boa redução de juros. Outros países aproveitaram esse bom momento melhor do que nós, e cresceram mais.

Agora, o cenário político é muito incerto e o ambiente internacional não é mais tão favorável. Se fizerem um grande corte de juros agora, vão dizer que houve pressão política, mesmo que haja motivos técnicos para isso. Num momento em que o ministro da Fazenda está assim fraco - a ponto de o Presidente da República ter de repetir toda hora que o ministro é forte - a condução da política monetária fica bem mais complicada.

Quais as conseqüências desses juros tão altos?

Por um lado, teríamos de aplaudir a política econômica, porque temos estabilidade econômica e contas externas bastante favoráveis. Mas, ao mesmo tempo, o certo era ter aproveitado essa fase boa para ousar, para escapar desta armadilha de juros altos. Quando a coisa apertar, vamos ter que virar bombeiros.

O governo poderia ter usado alguma outra política para tentar controlar a inflação, em vez de depender só do aumento da Selic?

Poderíamos ter usado melhor a política fiscal. Isso não significa aumentar o superávit primário. Bastaria melhorar a qualidade do superávit, cortando gastos correntes e não investimentos do governo.