Título: Para a Fiesp, redução foi 'pífia'
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de reduzir em 0,5 ponto porcentual a taxa Selic, frustrou as expectativas de empresários e sindicalistas, que esperavam um corte maior no juro básico da economia. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse que a redução foi "pífia e decepcionante". Para ele, a medida confirma a existência de imenso fosso entre o pensamento do Banco Central e a filosofia dos setores produtivos. " Não há explicação para a pífia redução de hoje.No momento em que as variáveis macroeconômicas alinham-se com as metas de inflação e que a indústria apresenta claros sintomas de desaceleração, a Fiesp aguardava queda mais expressiva da Selic", disse Skaf em nota. "Resta o consolo de que, com menos reuniões do Copom no ano novo, deverá reduzir-se proporcionalmente o número de decepções programadas para 2006 ."

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE), também lamentou a decisão, classificada de conservadora. "A atividade econômica está desacelerada, o real está apreciado e a inflação está sob controle. Essa é a janela de oportunidade para promover uma redução mais forte na taxa de juros."

Para ele, o cenário permite uma queda de pelo menos 1 ponto percentual nos juros. "A taxa de 18,5% é muito elevada e danosa à atividade. Significa uma taxa real superior a 13% ao ano."

O diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, ressaltou que a teimosia do BC fará a economia do País crescer menos de 3% este ano, ante uma expansão de 4,5% prevista para a economia mundial. "As decisões do Copom, sempre tomadas em terreno seguro, guardam pouca ou quase nenhuma relação com o lado real da economia". Tabacof alega que as evidências atuais de queda do nível de atividade industrial recomendariam uma redução mais drástica dos juros, cerca de 1 ponto, para que algum estímulo fosse gerado ao investimento e à produção.

"É difícil acreditar que em 2006 será melhor. Pelo lado da política monetária, sabe-se que o ritmo será esse. Resta aguardar para ver o que a política fiscal mais frouxa poderá fazer pela retomada do crescimento. A necessidade de um maior superávit fiscal pode ser minimizada por uma redução mais rápida da taxa de juros, que tem sido um fator dominante no aumento da dívida pública."

Júlio Sergio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), frisou que o BC perdeu mais um a vez a oportunidade de promover uma queda mais acentuada. Além da atividade industrial ter declinado nos últimos dois meses, as empresas do setor ampliaram a capacidade instalada de produção, cuja utilização está em 80%. Para se ter uma comparação, o economista cita que nos Estados Unidos esse número está em 79%, com juro muito baixo.

Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a decisão é positiva por manter a linha declinante, mas ainda é extremamente tímida. Ela insiste que "juros altíssimos atrapalham o processo de geração de empregos e são aliados da concentração de renda".

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, criticou o Copom de ministrar o remédio para a economia gota a gota, quando é preciso de doses bem maiores.