Título: Juro alto eleva dívida em R$ 114,1 bilhões
Autor: Fabio Graner e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B5
Impulsionada principalmente pelas taxas de juros elevadas, a dívida pública brasileira em títulos cresceu, de janeiro a outubro deste ano, R$ 127,1 bilhões, e chegou a R$ 937,3 bilhões. De todo o crescimento ocorrido neste ano, R$ 114,1 bilhões correspondem à incorporação dos juros no saldo da dívida. Os outros R$ 13 bilhões são emissões de novos títulos no mercado. Somente em outubro, mês em que a taxa Selic caiu pela segunda vez consecutiva, os juros sobre a dívida foram de R$ 11 bilhões. O estoque do endividamento brasileiro só não cresceu nessa mesma proporção em relação a setembro porque os resgates do Tesouro foram R$ 6,9 bilhões superiores aos lançamentos de títulos. Dessa forma, o endividamento subiu R$ 4,1 bilhões no mês passado, na comparação com o mês anterior.
Além de crescer, a dívida brasileira apresentou em outubro uma piora em seu perfil. Isso porque a participação das Letras do Tesouro Nacional (LTN), papéis que têm sua rentabilidade definida no momento da compra (prefixados), caiu para 24,48% do total da dívida. Em setembro, esse título tinha alcançado sua maior participação na série histórica divulgada pelo Tesouro: 25,76%. Os prefixados são considerados títulos de melhor qualidade pelo Tesouro porque, ao terem sua rentabilidade definida na emissão, dão maior previsibilidade à administração da dívida.
A queda na participação dos prefixados foi acompanhada de aumento na parcela de títulos cuja rentabilidade varia conforme a taxa Selic, as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs). Esse tipo de papel representou em outubro 55,68%, conseqüência de novas emissões R$ 10,3 bilhões superiores aos vencimentos do período.
Em setembro, a parcela de LFTs no total da dívida era de 54,33%. Ao contrário dos títulos prefixados, os pós-fixados são evitados, pois aumentam a vulnerabilidade da dívida às variações dos juros. Para o investidor, porém, tem risco menor, por isso a procura por esses títulos aumenta em momentos de nervosismo no mercado.
O coordenador de Operações da Dívida Pública, Ronnie Tavares, negou que o crescimento de títulos pós-fixados reflitam maior apetite dos investidores, causado pelo receio do agravamento da crise política envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
"Não existiu isso", respondeu, sobre possíveis efeitos da crise política nas vendas do Tesouro. Outro sinal de piora no perfil da dívida foi verificado no indicador de títulos que vão vencer nos próximos 12 meses, que subiu de 41% para 41,7% do endividamento total em outubro. Já o prazo médio de toda a dívida teve discreta melhora, atingindo 27,46 meses no mês passado, ante 27,21 meses em setembro.
Mesmo com os apelos do Tesouro para que fundos de pensão intensifiquem as compras das NTN-B e NTN-C (títulos com rendimento atrelado à inflação), a participação teve ligeira alta, passando de 13,63% para 13,85% do endividamento total. Já os títulos cambiais se mantiveram estáveis, representando 3,78% da dívida. Essa parcela tende a cair com mais força em novembro, com a retomada das operações de swap cambial reverso pelo Banco Central (operação onde o risco de desvalorização do câmbio é do investidor, e não do governo).