Título: PIB pode recuar e complicar Palocci
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B6

As avaliações que chegam ao governo sobre o comportamento da economia no terceiro trimestre estão provocando um novo desgate do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Os dados indicam que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de julho a setembro pode ter sido negativo na comparação com os três meses anteriores. Se a previsão se confirmar, os assessores governamentais ouvidos pelo Estado acreditam que o aumento real do PIB em 2005 ficará abaixo de 3%. Até agora, a previsão oficial é de crescimento de 3,4%. O IBGE divulga os resultados da economia no dia 30.

Mesmo antes da divulgação oficial dos números, o resultado do terceiro trimestre está sendo considerado por setores do governo um indicativo do "exagero" das políticas monetária, executada pelo Banco Central (BC), e fiscal, comandada por Palocci.

"Houve erro na administração dessas políticas", afirmou ontem um importante integrante do governo. "Vai ficar claro que a dosagem foi exagerada."

De acordo com essa avaliação, o BC "errou na mão" ao elevar a taxa de juros até 19,75% ao ano e mantê-la nesse nível durante quatro meses. Essa elevação teria inibido a retomada dos investimentos das empresas.

Ao realizar um superávit primário recorde nas contas públicas de janeiro a setembro, que chegou a 6,1% do PIB, o governo teria reforçado essa tendência de queda da atividade. "Houve um corte desnecessário da demanda", sintetizou uma fonte.

A queda na atividade fortalece a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que tem argumentado a favor de uma redução mais forte dos juros. Dilma seria fortalecida também, segundo essas avaliações, porque não são poucas as vozes no governo que defendem a ampliação dos gastos públicos justamente para ajudar na retomada do crescimento econômico a partir do último trimestre.

Os dados disponíveis no governo indicam que houve uma melhoria da atividade econômica nas três primeiras semanas de novembro. A análise que está sendo feita, no entanto, é que, mesmo com um bom desempenho no último trimestre, o crescimento de 2005 ficará, na melhor das hipóteses, em torno de 3%.

O resultado é considerado "muito ruim" por líderes da base aliada, pois a expectativa criada para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela equipe econômica, argumentam, foi de que o PIB aumentaria 4% este ano. Lula chegou a falar nos 4% em recente viagem ao exterior.

A crítica mais contundente que está sendo feita ao ministro Palocci por outros integrantes do governo é que os outros países emergentes estão em ritmo de crescimento muito mais acelerado. A China deve crescer mais de 8%; a Índia, de 7%; a Malásia e a Rússia, de 6%; a Tailândia, a Indonésia e as Filipinas, de 5%; e os vizinhos Chile e Argentina, acima de 6%. "Esse é o problema da política econômica de Palocci", resumiu um informante.

O ministro da Fazenda tem argumentado, nas discussões internas do governo, que é preciso criar condições para uma queda mais rápida dos juros. Somente assim, diz o ministro, será possível retomar o crescimento em ritmo mais acelerado. As condições para a queda dos juros seria dada, na opinião de Palocci, pela aceitação, pelo conjunto do governo, do programa de ajuste fiscal de longo prazo, elaborado conjuntamente com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Esse programa prevê a fixação de um limite para as despesas correntes não financeiras da União, que cairiam 0,2% do PIB ao ano, pelo prazo de 10 anos. Esse plano foi considerado "rudimentar" pela ministra Dilma Rousseff.