Título: Deputado diz que emprestou motorista e não sabia de saque
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Wanderval Santos (PL-SP) transferiu para o ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), o bispo Rodrigues, a responsabilidade pelos saques de R$ 150 mil feitos por seu motorista, Célio Siqueira, de uma conta de Marcos Valério no Banco Rural. Wanderval deixou deputados do Conselho indignados e surpresos ao relatar a submissão que os parlamentares ligados à Igreja Universal do Reino de Deus tinham com relação a Rodrigues, coordenador da bancada.

No depoimento, Wanderval afirmou que, além de determinar a atuação dos deputados, Rodrigues mandava nos funcionários desses parlamentares. "Ele ordenou que eu saísse do PTB, porque teria de ficar na oposição", relatou Wanderval, referindo-se à mudança de partido, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso.

Wanderval contou que Rodrigues usava o seu motorista para várias tarefas. "Era usado para fazer compras, levar filho na faculdade, pegar pessoas no aeroporto, sem que precisasse de minha autorização", disse. "Quando ele ligava, ninguém contestava."

Segundo o deputado, foi num desses pedidos que o motorista pegou um envelope com dinheiro no Rural e o levou à casa de Rodrigues.

Wanderval defendeu o seu motorista, dizendo que ele apenas cumpriu ordens, sem saber que transportara dinheiro. "Eu não podia punir o Célio, porque ele cumpriu uma ordem do deputado Carlos Rodrigues. Ele não sabia do que se tratava", disse. Ele garante que só soube do saque quando o escândalo apareceu na imprensa.

E relatou a conversa que teria tido com Rodrigues na ocasião. "Eu falei: olha só em que buraco você me botou, apenas por ter usado o meu motorista", relatou. "Ele (Rodrigues) disse que assumiria a responsabilidade e renunciaria ao mandato, se fosse o caso." Rodrigues foi um dos deputados que renunciaram ao mandato para fugir do processo de cassação.