Título: Houve repasses indevidos, conclui CPI do Mensalão
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Nacional, p. A9

Relator destaca que parlamentares e dirigentes partidários receberam as `vantagens¿ para reforçar caixa 2

BRASÍLIA - A CPI Mista da Compra de Votos, conhecida como CPI do Mensalão, está oficialmente extinta. Terminou ontem sem nenhum resultado prático e com a apresentação improvisada de parecer preparado pelo relator Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG). O texto foi considerado tímido pois não incriminou um único deputado nem tampouco acatou a tese do pagamento de mesada em troca de votos favoráveis ao governo. Depois um dia de movimentação em que governistas e oposicionistas alardearam interesse em mantê-la funcionando, apenas 148 deputados assinaram o requerimento de prorrogação dos trabalhos da comissão. Faltaram 23 nomes para atingir o mínimo necessário de 171 assinaturas exigido pelas normas regimentais. As assinaturas foram entregues pouco antes da meia-noite à Secretaria-Geral da Mesa do Senado, que não se deu ao trabalho de conferi-las. No Senado, onde era necessário o apoio de 27 senadores, o requerimento recebeu 29 adesões.

Apesar disso, o relator afirma que ¿parlamentares e dirigentes partidários receberam vantagens indevidas, com periodicidade variável, porém constante¿. E acrescenta: ¿Chame-se a isso mensalão, mensalinho, semanão ou quinzenão, o fato é que receberam¿. Só que Abi-Ackel atribuiu os repasses ao reforço do caixa 2 de campanha.

O relator teimou em ler seu texto numa espécie de sessão fantasma realizada depois de o Diário do Congresso Nacional ter registrado o encerramento dos trabalhos da CPI à meia-noite da véspera. ¿Me sinto um idiota e me penitencio por ter acreditado que isso seria sério¿, protestou no plenário da CPI o deputado Gastão Vieira (PMDB-MA), comparando-se a três personagens: a Velhinha de Taubaté, de Luis Fernando Verissimo, Palhares, o Canalha, de Nelson Rodrigues, e Eremildo, o Idiota, de Elio Gaspari. Passava das 16h e os deputados e senadores nem sequer sabiam se o inquérito estava encerrado ou se teriam um dia de sobrevida.

Enquanto alguns parlamentares insistiam na coleta das assinaturas de deputados para prorrogar a CPI por mais 30 dias, senadores já consideravam a comissão encerrada. ¿Paciência. Fiz todo o possível para que não acabasse assim¿, resignou-se o presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), ao final de uma sessão de lamúrias, na qual não faltaram os mea-culpa pelo fiasco.

Um dos mais atuantes na ofensiva de última hora para tentar esticar a CPI por pelo menos 30 dias, o deputado José Rocha (PFL-BA), não disfarçava a decepção: ¿Fico muito triste de chegar ao final sem uma conclusão, neste enterro lastimável da CPI¿. Segundo a deputada Perpétua Almeida (PC do B-BA), ¿boa parte desta CPI está fazendo jogo de cena porque a verdade é que não houve interesse de parte dos aliados nem da oposição em investigar¿.

Ninguém contestou quando disse que governistas fizeram corpo mole quando a oposição queria investigar denúncias de corrupção que envolviam aliados. A oposição também mostrava desinteresse quando a pauta eram denúncias de compra de voto para a reeleição de Fernando Henrique.