Título: Palocci negocia data para depor
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/11/2005, Nacional, p. A9

Ministro da Fazenda deve comparecer à CPI dos Bingos para dar explicações sobre sua passagem pela prefeitura de Ribeirão

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, negocia seu depoimento à CPI dos Bingos para falar sobre as denúncias de corrupção que pesam sobre seus dois mandatos de prefeito de Ribeirão Preto - entre 1993 e 1996 e entre 2001 e 2002. O acerto vem sendo discutido com os senadores Efraim Morais (PFL-PB), presidente da CPI, e Tião Viana (PT-AC). A data do depoimento será definida num acordo com o líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PB). A parte principal da negociação se deu ontem, antes do início da sessão que ouviu Ronan Maria Pinto. Efraim, Tião e José Jorge fizeram breve reunião para tratar da questão de Palocci. O petista já tinha a informação de que os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), antes contrários à convocação do ministro, tinham mudado de idéia. Com isso, o requerimento do senador Geraldo Mesquita (sem partido-AC) de convocação de Palocci seria aprovado por larga margem.

"Palocci aceita vir. Podemos acertar tudo hoje mesmo e convidá-lo", disse Tião. Efraim disse que terça-feira votaria o requerimento de Mesquita, mas não queria fazer nada apressadamente e preferia conversar antes com Palocci. Tião então ligou para o ministro: "Estou negociando a sua vinda", disse, e Palocci consentiu. "Vou passar o telefone para o Efraim."

Efraim Morais, tido pelo governo como o mais parcial pró-oposição dos presidentes de CPIs, cumprimentou Palocci. "Parabéns pelo depoimento (na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado). O senhor se saiu muito bem." Do outro lado, o ministro agradeceu. Efraim continuou: "Tem aqui um requerimento de sua convocação que será aprovado. Gostaria de saber se para o senhor está bem votá-lo na terça." Palocci respondeu que sim, que mantinha a palavra dada na CAE, de que quer esclarecer tudo.

Quando deu início à sessão da CPI, Efraim comunicou que votará o requerimento de Mesquita terça. Tião e José Jorge, que já sabiam de tudo, ficaram quietos. Logo depois da ligação a Palocci, Eduardo Suplicy (PT-SP) foi avisado do que havia sido acertado. Pediu a palavra apenas para cumprimentar os que haviam solicitado a Palocci que esclarecesse tudo. "Eu hoje dei um beijo especial na senadora Ideli Salvatti (PT-SC) por ela ter pedido ao ministro que fale tudo na CPI", contou Suplicy.

FORO ADEQUADO

ACM então explicou por que mudou de idéia. "O ministro Palocci falou o que quis na reunião da CAE. Não teve o contraditório porque aquele não era o foro adequado", disse. "Na reunião da CPI dos Bingos poderemos perguntar-lhe muita coisa a respeito de Ribeirão Preto. Tem muita coisa do que ele falou lá na CAE que os dados da CPI mostram que não é bem aquilo. Vamos ver", acrescentou.

"Na terça-feira vamos votar o requerimento. Com ajuda do PT", comemorou o líder tucano, Arthur Virgílio (AM). "Queira Deus que Palocci possa explicar tudo sobre as acusações que seus ex-assessores fizeram. Não queremos desestabilizar o ministro. Mas também não vamos lhe dar um salvo-conduto. Ele terá de se explicar."

No depoimento à CAE, Palocci rebateu as acusações que lhe são feitas. Disse que na campanha do presidente Lula não entrou dinheiro de Cuba, ou de Angola, ou das Farc, as forças guerrilheiras colombianas suspeitas de envolvimento com o narcotráfico. Afirmou ainda que, apesar das acusações de que empresários de Ribeirão Preto contribuíam com um caixinha para o PT, durante o tempo em que era prefeito, jamais houve mensalão ou mensalinho.