Título: Furlan: crescimento deve ser menor
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B12

A valorização do real, a indicação de queda na próxima safra agrícola, redução dos preços internacionais de algumas commodities e alto custo de logística no Brasil devem frear o ritmo de crescimento das exportações em 2006. A avaliação é do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. "Tudo indica que o crescimento das vendas será menor em 2006 que a média dos últimos três anos." A meta para 2006 será definida em dezembro, quando o ministério reunirá todos os setores. "Vamos definir uma meta factível e desafiadora", disse Furlan. "A meta de US$ 120 bilhões para 2006 é módica ante o que será atingido este ano." Ele se referia ao objetivo de chegar ao fim do governo com exportações de US$ 120 bilhões, o dobro do resultado alcançado pelo governo FHC em 2002. Mas este ano as vendas externas devem atingir US$ 117 bilhões.

Segundo Furlan, os quatro fatores citados por ele não estimulam o aumento da produção para o comércio exterior. Ele afirmou que, com a taxa de câmbio desfavorável e a queda dos preços internacionais de alguns produtos, como soja, os produtores não têm como arcar com o "exagero dos custos de logística de transporte". Por isso, equipes dos ministérios do Desenvolvimento e dos Transportes avaliam os gargalos já removidos nos principais portos do País e os que precisam de solução.

O ambiente político, acrescentou, tem deixado os empresários mais cautelosos. "Os números globais da economia sinalizam positivamente, mas existe um fator psicológico que, com a turbulência na área política, tem colocado os investidores em situação de cautela, adiando investimentos, o que virá em algum momento impactar no emprego e na produção."

Os mesmos fatores, avaliou o ministro, explicam o fato de as importações, sobretudo de bens de capital e insumos, não crescerem no ritmo esperado após a valorização do real, sinalizando que o ritmo de investimentos pode estar baixo. Furlan acredita que as vendas de Natal serão cruciais para os projetos das empresas em 2006.

Ele explicou que a grande procura por crédito consignado fez com que muitas pessoas antecipassem compras. Com a renda comprometida, elas devem reduzir as compras de fim de ano. "Há certa ansiedade em relação às vendas de Natal. Dependendo de como forem, vários setores podem ser incentivados a investir em novos projetos."