Título: Indústria têxtil reage à invasão chinesa com tecidos técnicos
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/11/2005, Economia & Negócios, p. B18

A avalanche chinesa no setor têxtil e de confecções começa a dar fôlego a uma área que sempre foi considerada um pequeno nicho de mercado. Trata-se da indústria de tecidos técnicos, cujos produtos são usados em revestimentos, coberturas, painéis publicitários, arquitetura e construção, calçados e vestuário esportivo. Em países como a Alemanha, a produção de têxteis técnicos já é mais significativa do que setores como o de tecidos para confecções. Em 1992, os tecidos para confecções contabilizavam 50% do mercado alemão, os direcionados para produtos da casa, 32% e os técnicos, 18%. No ano passado, os tecidos técnicos já eram pouco mais de 40% do mercado, ficando as outras duas categorias com 30% cada."Foi uma estratégia adotada pelas empresas para sobreviver à invasão dos têxteis chineses", conta o alemão Michael Jaenecke, diretor da Techtextil, principal feira do setor organizada pela Messe Frankfurt e que ocorre em cinco países, entre eles o Brasil. "Elas passaram a agregar valor a seus produtos por meio de inovações tecnológicas". Algumas empresas alemãs como a Verseidag, fabricante de tecidos para roupas como seda, mudaram de ramo. A Versaidag hoje faz tecidos para uso arquitetônico e esteiras rolantes.

Jaenecke está em São Paulo para a Techtextil South America. Segundo ele, o mercado mundial de tecidos técnicos é estimado em 70 milhões de toneladas. O principal produtor e consumidor são os Estados Unidos. "Mas é um setor que tem crescido muito em países com tradição em tecelagem, como Itália e França", diz. "Isso nos leva a apostar no potencial de outros países emergentes, como o Brasil".

Por aqui, grandes empresas já apostam na inovação tecnológica como forma de se manter à frente dos chineses. "Hoje as empresas chinesas detêm 35% do mercado de lonas estruturadas de polietileno e mais de 30% do mercado de laminado de PVC para painéis de comunicação visual, dois setores muito importantes para nós", explica Cícero Barros , diretor da unidade de Têxteis Industriais da Alpargatas. A empresa acaba de lançar dois produtos: um tecido para persianas com tratamento antiácaro e antimofo e outro para uso em painéis de publicidade que aceita impressão feita por sistema digital. "Produtos como esses são nosso futuro, porque não há formas de perpetuar nosso negócio só com lonas. Não temos como concorrer em escala e preço com os chineses", diz Barros. A Divisão de Têxteis Industriais responde por 10% do faturamento da Alpargatas, que no ano passado foi de R$ 1,2 bilhão.

A empresa M&G Fibras e Resinas está lançando uma fibra de poliéster tratado com íons de prata, o que lhe atribui capacidade antimicrobiana. Parte do grupo italiano Mossi & Ghisolfi, que comprou há três anos a Divisão Rhodia Ster, a M&G prevê a aplicação de seu produto em estofamentos, calçados e mesmo meias, roupas íntimas e esportivas. "A fibra foi desenvolvida no Brasil e a partir de necessidades de clientes", diz Luís Henrique Bittencourt, gerente comercial da empresa. A M&G espera