Título: Um conflito que não se limitou à Espanha
Autor: Noelle Valles
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Internacional, p. A21

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi muito mais do que um conflito ibérico. Incendiou a imaginação de toda uma geração e não apenas dos milhares de voluntários das Brigadas Internacionais. O número de estrangeiros que se envolveram, de uma maneira ou de outra, no drama espanhol pode ser estimado pela quantidade dos que, anos depois, tornariam-se mundialmente famosos. O britânico George Orwell, por exemplo, foi um dos voluntários que lutaram em Barcelona ao lado de um pequeno partido de esquerda, conhecido pela sigla POUM. O americano Ernest Hemingway foi correspondente. A lista toda é muito grande para citar nesse espaço. Dividir os dois lados em combate entre republicanos e nacionalistas é simplificar demais o conflito. O mesmo é dizer que a Guerra Civil Espanhola serviu apenas como uma introdução à 2.ª Guerra Mundial. A Espanha do final da década de 30 foi o palco do embate das principais ideologias da época. Isso explica por que tantos franceses, britânicos, alemães, italianos e também brasileiros saíram voluntariamente do conforto de seus lares para arriscar a vida num país estrangeiro.

Lutava-se por diferentes motivos. No campo republicano, havia anarquistas, stalinistas, trostskistas, socialistas, democratas... Entre os nacionalistas, encontravam-se monarquistas, fascistas, anticomunistas, católicos fervorosos...

A Alemanha, de Hitler, e a Itália, de Mussolini, engrossaram as fileiras dos nacionalistas. Já a república teve que se contentar com o apoio errático da União Soviética, de Stalin. Foi na Espanha, mais exatamente no País Basco, que os alemães puderam fazer uma experiência macabra e até então pouco conhecida: observar os efeitos de um bombardeio aéreo sobre uma cidade indefesa.

Sob o pretexto de derrubar uma ponte que ligava o nada a lugar nenhum, a força aérea de Hitler deixou pouca coisa de pé. Entre elas, ironicamente, a ponte que serviu de desculpa para o ataque. Assim, os espanhóis conheceram, em primeira mão, o horror da blitz mais tarde imortalizada por Pablo Picasso no quadro Guernica, o nome da tal cidade.

No campo de batalha, as indisciplinadas e mal-equipadas forças republicanas, as que atraíram o maior número de voluntários, não foram páreo para a eficiente tropa marroquina sob o comando do golpista Francisco Franco e o restante do exército nacionalista. Ao final da guerra, o número de mortos rondava o meio milhão, segundo algumas estimativas otimistas. Para muitos dos que lutaram na Espanha, entre as vítimas do conflito também estavam as ideologias em nome das quais se perseguiu e matou.