Título: Péssimas notícias esperam por Bush na volta da Ásia
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Internacional, p. A19

Aprovação do presidente despenca enquanto cresce campanha para saída do Iraque

WASHINGTON - Más e péssimas notícias aguardam George W. Bush quando ele regressar a Washington, terça-feira, após uma visita de uma semana à Ásia que em nada está ajudando a restaurar seu abalado prestígio em casa. Dominada pela necessidade de Bush responder ao crescente descrédito de sua política no Iraque entre os americanos, a viagem tem passado largamente despercebida dos americanos como um exercício de liderança internacional dos EUA. Entre as más notícias que esperam por Bush estão novas pesquisas de opinião que confirmam a pronunciada perda de credibilidade do presidente. Segundo uma sondagem do Instituto Louis Harris, divulgada na sexta-feira, o presidente americano teria a aprovação de apenas 32%, ou seja, de menos de um terço da opinião pública.

Entre as péssimas notícias, Bush encontrará novas pressões pela retirada americana do Iraque, a deserção de parlamentares republicanos em votações de leis orçamentárias e a probabilidade de a investigação criminal sobre o vazamento da identidade de uma agente da CIA, que parecia perto do fim, ganhar nova vida.

Na sexta-feira, o promotor federal Patrick Fitzgerald, que conduz o inquérito e já indiciou o chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney por perjúrio e obstrução da Justiça, informou que o processo exigirá a apresentação de novas testemunhas diante de um novo júri de instrução. O anúncio veio apenas dias depois da tardia admissão feita pelo jornalista Bob Woodward, do Washington Post, de que um alto funcionário do governo, até agora não identificado publicamente, revelou a ele a identidade da espiã vários dias antes de a informação ter sido vazada a outros repórteres.

O prolongamento do inquérito manterá altos funcionários da Casa Branca sob uma nuvem de suspeita e o risco de indiciamento no momento em que Bush mais precisará de sua assessoria próxima para impedir o desmoronamento do apoio popular à sua política no Iraque e preservar as prioridades de seus programas no Congresso.

A demolidora denúncia da guerra que o deputado John P. Murtha, democrata da Pensilvânia, fez na quinta-feira deve abrir caminho e dar cobertura a novas deserções entre os parlamentares dos dois partidos que apoiaram a guerra. Um ex-oficial marine conhecido por suas posições de falcão em temas de segurança nacional e defesa, Murtha afirmou que a guerra no Iraque transformou-se ¿numa política furada embrulhada numa ilusão¿ ¿ a de que a presença de mais de 150 mil soldados americanos permitirá a estabilização do país.

O deputado, que faz visitas semanais a soldados feridos na guerra, apresentou um projeto de lei propondo a retirada do Iraque em seis meses.

Outros democratas e mesmo alguns republicanos exigem que o governo apresente, no mínimo, um roteiro que contenha os objetivos a serem atingidos no Iraque, com prazos e um plano de retirada gradual. ¿Quando Murtha fala, eu presto atenção¿, disse o deputado republicano John McHugh, de Nova York, que é membro da Comissão das Forças Armadas da Câmara. Segundo uma pesquisa do USA Today, dois terços dos americanos hoje reprovam o manejo da guerra e 52% apóiam a retirada.

A Casa Branca reagiu comparando Murtha a Michael Moore, o iconoclasta diretor de cinema e crítico feroz do governo. Bush e Cheney repetiram as críticas que tinham feito na semana passada aos que se opõem hoje à guerra depois de tê-la apoiado dois anos atrás, insinuando novamente que eles prestam serviço ao inimigo. Murtha não se intimidou. O deputado deu o troco na mesma moeda. Referindo-se a Cheney, Murtha disse numa entrevista coletiva que não reconhece nele, que conseguiu cinco adiamentos de sua incorporação às Forças Armadas durante a guerra do Vietnã e nunca vestiu farda, autoridade para falar sobre guerra.

Desgastado e transformado em fardo político mesmo em distritos eleitorais que ajudaram sua reeleição, em novembro do ano passado, Bush encontrará dificuldade também para manter a lealdade dos republicanos em decisões de política orçamentária, uma área em que até agora manteve sólido controle. Na semana passada, as deserções de conservadores provocaram duas derrotas da Casa Branca que podem ser apenas um prelúdio.