Título: Atentados matam dezenas no Iraque
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Internacional, p. A18

Cinco marines estão entre as vítimas fatais de 5 atentados ocorridos depois que Bush confirmou a presença militar dos EUA no país

BAGDÁ - Horas depois de o presidente George W. Bush confirmar em Osan, Coréia do Sul, que as forças dos EUA continuarão no Iraque até a vitória total, mais cinco atentados a bomba ocorriam no país árabe, provocando a morte de pelo menos 54 pessoas ¿ entre as quais 5 soldados americanos ¿ e ferimentos em cerca de 140. Os novos atentados ocorreram um dia depois das explosões na capital e Jakanin,norte do país,que deixaram 80 mortos e 150 feridos. O primeiro ataque de ontem foi no distrito de Yisr Diyala, também ao norte. Um microônibus, carregado de dinamite, explodiu perto de um mercado. ¿Pelo menos 14 pessoas morreram e 80 ficaram feridas¿, disse um porta-voz da polícia iraquiana, capitão Salam Habab. Pouco depois, uma patrulha da polícia iraquiana foi alvo dos extremistas no centro de Bagdá iraquianos. Uma bomba explodiu perto do veículo dos policiais, ferindo três agentes e oito civis que passavam pelo local.

No terceiro ataque, o mais grave, morreram pelo menos 35 pessoas e 50 ficaram feridas. Elas acompanham um enterro em Abu Sayda,norte do país,quando um terrorista suicida detonou explosivos que carregava na cintura.

Os dois últimos atentados custaram a vida de cinco marines e ferimentos em outros cinco. Eles participavam de uma patrulha em Baiji, também no norte do país. Eleva-se agora a 2.089 o total de soldados americanos mortos no Iraque desde a invasão em março de 2003.

Em Seul, o presidente Bush participou da cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico e discursou na base militar de Osan, de onde embarcaria para Pequim, na China. Horas antes do pronunciamento dele, o Congresso dos EUA havia rejeitado por 403 votos a 3 projeto do deputado democrata John Murtha que pedia a retirada imediata das tropas do território iraquiano.

¿Combateremos os terroristas no Iraque e continuaremos a luta até que tenhamos conseguido a vitória pela qual nossos valentes soldados lutam e derramam seu sangue¿, disse Bush.

O deputado democrata John Murtha, ex-coronel da Marinha, justificara seu projeto de retirada argumentando que Bush não obteve progresso claro e quantificável na estabilização e segurança do Iraque. ¿A presença americana hoje naquele país é um elemento catalisador de violência¿, afirmara o parlamentar.

A rejeição teve a votação avassaladora graças a uma estratégia dos republicanos. ¿Precisamos apoiar nossas tropas que lutam no Iraque e no Afeganistão¿, ressaltou o presidente da Câmara, o republicano Dennis Hastert, antes da votação. ¿Não vamos bater em retirada.¿

Em acalorado debate com a deputada democrata Nancy Pelosi, a republicana Jean Schmidt disse ter recebido pedido de um de seus eleitores para que ela enviasse uma mensagem ao Congresso e ao democrata Murtha, veterano do Vietnã, nos seguintes termos: ¿Os covardes se escondem e fogem. Os marines, nunca.¿ Os democratas reagiram com indignação e a deputada republicana se viu forçada a retirar o comentário.

Os democratas acusaram os republicanos de chantagem política. Ficaram diante de um dilema: continuavam apoiando a proposta de Murtha expondo-se à acusação de derrotistas ou votavam contra ela enfrentando a indignação de um número cada vez maior de americanos que querem o fim do conflito. Decidiram votar contra a proposta do colega.

Esse foi mais um lance da ofensiva lançada pelos republicanos e o governo para manter as tropas no Iraque, desafiando o crescente número de críticos da guerra.

Segundo pesquisa do instituto Harris, Bush conta hoje com o apoio de apenas 34% do eleitorado, o índice mais baixo de toda a administração dele até agora. Outro dado importante revelado pelo estudo: 63% dos americanos desaprovam a forma como ele conduz o conflito.