Título: Ligações reforçam suspeita no caso Angola
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Nacional, p. A10

CPI acha 103 contatos entre ex-assessor de Palocci e empresário com negócios no país

RIBEIRÃO PRETO - A quebra do sigilo telefônico do economista Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro Antonio Palocci acusado de transportar para o PT dólares vindos de Cuba, mostra que ele manteve pelo menos 103 contatos entre 2003 e 2004 com duas empresas de José Roberto Colnaghi. O empresário é dono do avião Sêneca que teria transportado a suposta doação à campanha do presidente Lula, em 2002. O período dos contatos coincide com o período em que Colnaghi é investigado por intermediar a ida de empresários brasileiros para Angola, para participar nas obras de reconstrução do país. A CPI dos Bingos já investigava se amigos de Palocci foram beneficiados nos negócios com o país africano e se houve recursos públicos nessas supostas transações. Agora, também quer apurar outras relações de Poleto e Colnaghi.

As empresas com as quais Poleto manteve contato são: a Asperbras Sistemas de Irrigação, que fornece produtos para Angola, e a Soft Micro, que faturou R$ 9,4 milhões do Banco do Brasil para fornecer softwares para todas as prefeituras de Tocantins, sem licitação. Ambas já eram investigadas pela CPI.

Apesar de terem aparecido 103 ligações entre Poleto e as empresas podem surgir mais. É que há números ainda não identificados. Entre os já reconhecidos, há ligações que partem do celular de Poleto para os números das empresas e vice-versa. No período, por exemplo, foram rastreadas 43 ligações dele para a Asperbras e 37 ligações feitas da Soft Micro para ele.

Os dados em poder da CPI, aos quais o Estado teve acesso, mostram que nem sempre os contatos eram rápidos. Em 25 de junho de 2003, por exemplo, às 11h58, Poleto liga do celular para a Asperbras. A conversa dura 11 minutos e 75 segundos.

Há também conversas entre Poleto e um número de celular em nome de Colnaghi. Em outra ocasião, há registros de conversas dele com um número do irmão de José Roberto Colnaghi, Francisco Colnaghi, sócio nas empresas e no Sêneca.

A CPI quer saber quais relações Poleto, amigo do assessor particular de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva, com quem trabalhou na prefeitura de Ribeirão e falava freqüentemente pelo telefone no período, tinha com os Colnaghi.

Oficialmente, Poleto não mantinha negócios com empresas dos Colnaghi. Na época dos telefonemas, ele trabalhava como consultor do banco Prosper, do Rio ¿ que já tinha suas relações com ex-assessores do ministro investigadas pela CPI. Para técnicos da comissão, Poleto tinha atuação operacional, servindo de ponte entre Palocci e seus assessores com os irmãos Colnaghi.

Uma das testemunhas da CPI reforça essa tese e afirma que Poleto atuou também em prefeituras para tentar viabilizar a contratação da Soft Micro. Seu contato seria um sócio dos irmãos Colnaghi na empresa, Mário Costa Júnior.