Título: Dona de casa está na lista de beneficiários de Valério
Autor: Diego Escosteguy , Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Nacional, p. A8

Ela considera piada informação de que recebeu R$ 250 mil; há indícios de que alguns dos beneficiários localizados pelo `Estado¿ sejam laranjas do valerioduto

BRASÍLIA - A dona de casa Rosielma Barreto custou a acreditar. ¿Só pode ser trote¿, reagiu ela, ao ser informada pelo Estado de que consta como beneficiária de uma transferência de R$ 250 mil das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Ela mora às margens da Rodovia Afonso Celso, no município de São Francisco de Itabapoana, Rio de Janeiro. Rosielma só parou de achar que era piada ao confirmar seu CPF e RG com a reportagem. ¿Sou eu mesma. Não conheço esse povo. Odeio política. Esse Valério é aquele da TV?¿ A dona de casa está entre os beneficiários ainda não identificados pela CPI dos Correios que receberam recursos ¿ ao menos no papel ¿ de uma das contas da agência de publicidade SMPB, no Banco Rural. Foi por essa conta, a 2595-2, que Valério abasteceu o mensalão. Levantamento feito pelo Estado descobriu quem são 20 desses personagens. Há indícios fortes de que, como no caso de Rosielma, algumas dessas pessoas sejam laranjas ou tenham sido usadas pelo valerioduto.

No relatório parcial da CPI sobre as movimentações financeiras de Valério, os integrantes da comissão pediram que a Polícia Federal investigue os beneficiários não identificados da conta 2595-2. ¿A relação de pessoas apresentada não conclui que todos participaram de operações ilegais, mas os coloca sob suspeita de terem participado, a partir da análise contábil-financeira efetuada¿, afirmam os parlamentares no documento. Além da dona de casa, entre os beneficiários localizados pelo Estado há dois agricultores, um zelador que mora no interior de Minas Gerais e um funcionário de um hospital em São Luís do Maranhão. Também constam um funcionário do Banco do Brasil e um gerente do Banco Rural, ambos de Belo Horizonte. Além deles, a lista identifica vários empresários e publicitários.

A empresa São José III Comércio de Combustíveis recebeu, segundo a documentação do Banco Rural, R$ 70 mil da SMPB. Na prática, a São José é o Posto Catedral, que fica em Maringá, no Paraná.

Localizado por telefone, o dono do posto, Jaime Dias Santos Luzio, achou graça do suposto depósito. ¿É claro que isso não procede¿, disse, depois de confirmar os dados da empresa. ¿Mas se o Marcos Valério quiser depositar essa grana vai quebrar um galho aqui.¿

Outro que aparentemente não entendeu nada foi Eduardo Tadeu Jacóia Romero, assistente do Banco do Brasil em Belo Horizonte. Pelos dados obtidos pela CPI, ele recebeu R$ 15 mil da SMPB em junho de 2003. A reportagem também conseguiu conversar com o funcionário pelo telefone. Mesmo depois de confirmar seus dados pessoais, continuou sem acreditar na história: ¿Se consta isso, só posso dizer que é descabido.¿

Um nome intrigante é o de Roberto Bessa. Segundo a CPI, ele recebeu R$ 37,4 mil da SMPB. Bessa é gerente-geral do Banco Rural e mora em Belo Horizonte. Questionado sobre o depósito, hesitou. ¿Só pode ser engano¿, limitou-se a dizer, antes de desligar o telefone.