Título: Para relator, houve crime de resposnabilidade
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Nacional, p. A5

Para Júlio Delgado, evidências de quebra de decoro `são vastas¿

É com surpresa, às vezes com ironia, que o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do processo contra o ex-ministro José Dirceu no Conselho de Ética da Câmara, reage à insistente alegação de falta de provas para a sua cassação. ¿As evidências de quebra de decoro e tráfico de influência são vastas¿, diz ele, lembrando que esses tipos de crimes não dependem de fotografia ou papel assinado, com firma reconhecida, para serem tipificados. Delgado debruçou-se sobre toda a papelama do caso Dirceu durante três meses e seu parecer, pela cassação, foi aprovado no Conselho de Ética por 13 votos a 1. Ele lembra, para começar, um crime de responsabilidade que Dirceu cometeu quando, na condição de deputado, recebeu proventos como membro do Conselho Diretor da Petrobrás. ¿Está claro, na Constituição (artigos 54 e 55), que essas atividades paralelas e remuneradas constituem crime e são rigorosamente proibidas¿, acrescenta. Dirceu ficou por dois meses no Conselho e recebeu R$ 4.500,00. Na conversa com o Estado, Júlio Delgado relata outros episódios:

CHEQUE PARA MARQUES

Um auxiliar do ex-ministro, Roberto Marques, recebeu cheque da agência SMPB, de R$ 50 mil. Quem denunciou foi a diretora financeira da agência, Simone Vasconcelos. Delgado recorda: ¿(O empresário) Marcos Valério de Souza disse na CPI, olhando no olho do (ex-tesoureiro petista) Delúbio Soares, que aquele Marques de que se falava era o amigo de Dirceu, não um homônimo. Delúbio ouviu calado e nada comentou¿.

AJUDA À EX-MULHER

Angela Saragoça, ex-mulher de Dirceu, conseguiu emprego no banco BMG em São Paulo. O Banco Rural, que não atuava na área habitacional, emprestou-lhe R$ 42 mil para comprar um apartamento. Um sócio de Valério, Rogério Tolentino, comprou dela outro imóvel. ¿Isso tudo aconteceu entre julho e novembro de 2003¿, diz o relator.

DINHEIRO PARA DUDA

Os pagamentos feitos ao publicitário Duda Mendonça, pela offshore Dusseldorf, com sede nas Bahamas e conta em Miami, constituem um ilícito que justificaria até o cancelamento do registro do PT. O próprio Duda os confessou à CPI. ¿E quando esses acertos foram feitos, no início da disputa eleitoral, Dirceu era presidente do PT e coordenador da campanha presidencial de Lula¿.

DINHEIRO PARA O PT

Delgado vê uma ponte óbvia entre o papel de liderança e controle de Dirceu, no PT, e o circo montado pelo valerioduto, com empréstimos falsos de bancos para o partido e outras operações para ocultar a movimentação, comprovada em CPI, de cerca de R$ 55 milhões. Há em tudo isso, diz o relator, seguidos casos de omissão e tráfico de influência, descritos na Lei de Improbidade Administrativa (n.º 8.429/92). Ele se pergunta, por exemplo: quem definia o valor dos cheques e quais os parlamentares a recebê-los?

DINHEIRO PARA O PL

A confissão do ex-deputado e presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), sobre a ocasião em que se definiu a aliança PT-PL descreve um encontro de que teriam participado o então candidato Lula, o senador José Alencar (futuro vice na chapa), Valdemar, José Dirceu e Delúbio Soares. ¿O presidente do PL disse que, na hora de definir valores, Lula e Alencar deixaram a sala. Portanto, Dirceu ficou lá dentro. E participou da negociação na qual o PL recebeu dinheiro e Alencar foi sagrado vice na chapa¿