Título: Simulação reproduziu rito de voto no plenário
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Para apurar a tendência do plenário na votação da punição para o deputado José Dirceu, o Instituto Ascende e a Kramer & Ornelas Consultoria organizaram uma votação simulada na Câmara, entre quarta e sexta-feira. Cada um dos dez entrevistadores levou uma urna de madeira lacrada, onde os deputados que aceitaram participar colocavam uma cédula. A votação foi secreta. ¿A finalidade do procedimento foi reproduzir a essência da situação real da votação em plenário¿, explicam os cientistas políticos Paulo Kramer e Ricardo Caldas, na nota metodológica do trabalho. Os deputados respondiam à seguinte questão: ¿Como o sr. (sra.) votará no processo do deputado José Dirceu?¿ As opções de mais destaque eram: cassação, absolvição e abstenção. Os votantes podiam optar ainda por indeciso e não responde.

¿Os deputados votaram sem assistência do entrevistador¿, ressalvam os pesquisadores. As urnas foram levadas aos deputados no plenário, em salas de comissões e nos gabinetes. Dos 242 que participaram da simulação, 133 (55%) foram a favor da cassação e 72 (29,8%) votaram pela absolvição. Houve 17 abstenções (7%). Outros 20 parlamentares (8,3%) optaram pelo voto nulo ou em branco ou não responderam, apesar de terem depositados as cédulas nas urnas.

REPRESENTATIVIDADE

Dos 242 participantes da votação secreta, 185 aceitaram revelar seus nomes, sob a condição de não serem publicados. Assim, foi possível agrupá-los por partidos. O resultado é muito próximo da divisão das bancadas na Câmara, o que levou os pesquisadores a considerarem a amostra bastante representativa da realidade da Casa.

¿É como um mini-Parlamento¿, conta Caldas. Desses 185 deputados, a maior parte (17,8%, ou 33 deputados) é do PT, que tem a maior bancada (16% dos 513 deputados). Em segundo lugar estão os peemedebistas, com 27 votantes, ou 14,6% do total. O PMDB é a

segunda maior bancada da Câmara, com 15,6% dos deputados.

Mas 40% dos 404 deputados abordados não quiseram participar da pesquisa. ¿Certamente em razão da `delicadeza¿ da questão (perspectiva de cassação do mandato do outrora homem forte do governo Lula, sob intensa atenção da opinião pública), cerca de 40% dos deputados contatados recusaram-se a preencher a cédula, não participando da sondagem¿, explicam Kramer e Caldas.