Título: Polícia começa a acreditar em crime político no caso Santo André
Autor: Ana Paula Scinocca e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Nacional, p. A8

A retomada das investigações sobre o seqüestro e assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel está fazendo a Polícia de São Paulo mudar sua convicção sobre o crime ocorrido em janeiro de 2002. Até então convencidas de que se tratava de crime comum, e não de mando, as autoridades que estão na linha de frente da apuração já começam a concordar com o Ministério Público, que desde o início insiste na tese de crime político. "A cada dia ficam mais claras as provas de que o crime não foi comum", diz um policial civil que participa da investigação. A dificuldade da polícia, que pretende concluir o inquérito sobre o seqüestro e o fuzilamento de Celso Daniel até janeiro, é encontrar elementos que sustentem a tese de que o crime foi de mando. "Que o crime não foi comum, não foi mesmo. Mas ainda está difícil provar o crime de mando", comentou uma fonte ao Estado.

O Ministério Público Estadual sustenta que Celso Daniel foi assassinado "para assegurar" a manutenção do esquema de corrupção em Santo André, e denunciou como mandante o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Na segunda-feira, o empresário participará de uma acareação, na sede da promotoria, em São Paulo, com os sete réus já presos, sob acusação de envolvimento na morte do prefeito. A acareação será conduzida pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), presidente da subcomissão da CPI dos Bingos que investiga o caso.

LULA

"O Ministério Público sempre atuou de forma independente e apartidária", afirmou o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo César Rebello Pinho, sobre as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Lula a morte de Daniel foi "um acidente de percurso, um crime comum". Ele acusou "parte" da promotoria paulista de agir por interesse político.

Pinho lembrou que a Justiça acolheu a denúncia contra Sérgio Gomes em primeira instância e ela foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e pelo Superior Tribunal de Justiça. O empresário só teve a prisão preventiva suspensa por liminar concedida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim.

Pinho afirmou estar convicto de que os réus serão condenados pela Justiça e atribuiu as declarações de Lula à falta de informação sobre as investigações. "Ao se manifestar sobre o tema, o presidente torna política uma questão que deve ser examinada exclusivamente no âmbito jurídico", ressaltou.

Roberto Wider, um dos promotores encarregados do caso, se colocou à disposição do presidente para apresentar detalhes da apuração. "Não nos pautamos pelas eleições", afirmou.