Título: Briga impede CPI de votar relatório
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Nacional, p. A11

Por falta de consenso entre PT e PSDB, a CPI dos Correios adiou para a próxima quinta-feira a votação do relatório parcial sobre a movimentação financeira do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O impasse é sobre a inclusão no texto, apresentado há 15 dias pelo deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), do empréstimo feito por Valério em 1998 para pagar despesas da campanha à reeleição do então governador mineiro, o senador Eduardo Azeredo (PSDB). Fruet concorda em pôr no relatório o empréstimo, desde que seja feito um capítulo tratando do depoimento do publicitário Duda Mendonça, que falou sobre o caixa 2 de campanhas estaduais petistas, em 2002, como a de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Pará, de Minas e do Pará.

O sub-relator também quer incluir o depoimento do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e de Cláudio Mourão, que foi coordenador financeiro da campanha de Azeredo em 1998. Mourão admitiu que fez caixa 2 nessa campanha, mas sem o conhecimento do tucano.

"Não vou ser intransigente. Vou fazer um novo capítulo no relatório que irá abordar investigações que ainda não foram concluídas, incluindo os depoimentos do Mourão, do Duda e do Delúbio. Quero acabar logo com essa história para não inviabilizar a CPI", disse Fruet.

No relatório, ele pedirá ao Ministério Público o indiciamento de Marcos Prata, que foi contador das empresas de Valério, por fraude fiscal e contábil. Na proposta original, o tucano já tinha pedido o indiciamento de Delúbio e Marcos Valério.

MERCADANTE

"Só não aprovamos o relatório porque não fizermos a lição de casa, que era discutir a proposta no devido tempo. Mas, daqui até a semana que vem, vamos construir uma proposta de comum acordo com todos", afirmou o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS).

Para incluir Azeredo e as campanhas estaduais do PT, Fruet e Delcídio tiveram uma conversa com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

Em seu depoimento à CPI, Duda disse que recebeu R$ 15,5 milhões de caixa 2 para fazer a campanha nacional e a de senadores petistas em alguns Estados. Na época, Mercadante foi à comissão e afirmou que não sabia do caixa 2. "Os documentos que o Mercadante apresentou à Justiça Eleitoral foram baseados nos dados do Duda. Ele não tem culpa. Não tem culpa se o Duda mentiu para ele", observou Fruet.

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) sugeriu que, no novo relatório, sejam listados todos os documentos apresentados até hoje à CPI dos Correios sobre financiamento de campanhas. "Tem caixa 2 de campanha no PSDB e no PFL de Minas. O Duda apareceu recebendo por fora do Marcos Valério recentemente. Mas o PSDB e o PFL aparecem antes."

O relatório de Fruet deveria ter sido votado ontem pela manhã na CPI, mas a disputa política entre petistas e tucanos impediu que as negociações avançassem em torno de um texto comum.

Na quinta-feira que vem, a CPI também pretende votar o relatório parcial do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) sobre os contratos da Skymaster, responsável pela Rede Postal Noturna dos Correios. Segundo Cardozo, a companhia enviou para duas empresas nas Ilhas Virgens Britânicas cerca de R$ 70 milhões, por contratos simulados de arrendamento de aviões.