Título: Governo age em CPI para evitar vitória de ruralistas
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Nacional, p. A15

O governo conseguiu adiar para terça-feira a votação do relatório da CPI da Terra, que estava marcada para ontem. O pedido da base governista foi formalizado depois que o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), da bancada ruralista, apresentou um texto alternativo que derruba o relatório do deputado João Alfredo (PSOL-CE). Além de associar os sem-terra ao contrabando de armas , Lupion pede ao Ministério Público o indiciamento, por crimes de formação de quadrilha e extorsão, de João Pedro Stédile, o principal líder do Movimento dos Sem-Terra (MST). O texto acusa também Gilmar Mauro, João Paulo Rodrigues, José Rainha Júnior e Jaime Amorim - todos da direção nacional.

Se o relatório de João Alfredo fosse derrubado ontem, a proposta dos ruralistas teria sido aprovada. Mas o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), entendeu que a reivindicação da base governista era regimental e marcou nova data. Já se sabe que até lá o senador Sibá Machado (PT-AC) vai tentar negociar com os ruralistas uma proposta alternativa.

Lupion disse que há indícios suficientes para associar Stédile a práticas de quadrilha na organização de invasões de terras produtivas. O texto do parlamentar paranaense também sugere ao Congresso a votação de projetos de lei que tornam mais rigorosa as punições em casos de invasão. Um desses projetos propõe que ações como saques, invasões e depredações de propriedades sejam incluídas no rol dos crimes hediondos.

O texto de Lupion ainda investe contra as escolas e centros de capacitação do movimento. Ele suspeita que eles ensinem técnicas de guerrilha.

A sessão de ontem foi acompanhada pelo presidente da União Democrática Ruralista (UDR). Ele criticou acidamente o texto do relator João Alfredo, que acusou a UDR de estimular a violência no campo e pediu o indiciamento de Nabhan.

Líderes e militantes do MST também estavam presentes. Em diferentes momentos eles gritaram palavras "UDR assassina". Na opinião de João Paulo Rodrigues, do MST, "a CPI virou um tribunal ideológico contra os sem-terra".

Para o relator, João Alfredo, o texto de Lupion é um arremedo de relatório. Também disse que não esperava aprovação incondicional de seu texto. "Esta CPI tem um corte ideológico, que vai além do debate entre governo e oposição. Ela reúne dois grupos com interesses frontalmente contraditórios. De um lado estão parlamentares ligados aos sem-terra, como eu, que advoguei para a Comissão Pastoral da Terra, e o Adão Pretto, do PT gaúcho, que veio do MST, ao lado de parlamentares que pertencem à UDR, como o Abelardo Lupion."