Título: EUA enganaram Blair, diz diplomata
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Internacional, p. A16

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, foi enganado pelos assessores do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, antes da guerra do Iraque, disse ontem o ex-embaixador americano Joseph Wilson, em entrevista à rede de rádio britânica BBC. Wilson é marido de Valerie Plame, uma agente da CIA que teve o nome revelado por funcionários da Casa Branca em represália pelas críticas do diplomata aos motivos apresentados pelo governo americano para justificar a invasão do Iraque. O ex-embaixador Wilson disse acreditar que Blair pensasse estar envolvendo seu país numa campanha pelo desarmamento do Iraque quando, na verdade, o interesse da Casa Branca era a mudança de regime - ou seja, a deposição do governo do presidente Saddam Hussein. Por fim, Blair não teve alternativa, disse Wilson, e acabou aderindo à tese da mudança de regime.

Um pouco antes do início da primeira Guerra do Golfo (1991), Wilson era embaixador interino dos EUA no Iraque. Em 2003, ele foi o diplomata enviado pela CIA ao Níger, no norte da África, para investigar uma suspeita de que Saddam houvesse tentado adquirir minério de urânio desse país, para usar em seu suposto programa nuclear. Depois que Wilson divulgou que a história do urânio do Níger era falsa, o fato de sua mulher trabalhar para a CIA foi vazado para um jornalista de direita americano, que o publicou em sua coluna, violando uma lei federal de proteção à identidade dos agentes secretos.

De acordo com Wilson, quando Bush começou a falar em mudança de regime, Blair o visitou nos EUA. Depois dessa reunião, o presidente americano passou a falar em desarmamento. Blair acreditou, então, ter convencido Bush de sua causa, pois o líder americano passou a defender publicamente a remoção das armas de destruição em massa do Iraque. A influência de Blair sobre Bush foi determinante, segundo Wilson, para que Bush levasse o caso à ONU. Mas, na verdade, disse ele, a intenção do governo Bush era mesmo a mudança de regime.

Segundo o diplomata, muitas das supostas provas mostradas contra Saddam Hussein foram fabricadas para justificar a invasão. "Nunca ficou provado que o Iraque houvesse tentado comprar urânio no Níger", declarou Wilson à BBC. "Mas a legislação que autoriza o uso da força exigia demonstrar a gravidade da ameaça", afirmou o diplomata americano.