Título: 1 em cada 6 mulheres sofre violência em casa
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Vida&, p. A20
Hoje, no Dia Internacional da Não-Violência Contra as Mulheres, um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que mais de um quarto da população feminina de São Paulo e mais de um terço da Zona da Mata de Pernambuco sofreram violência doméstica. Os dados são do primeiro relatório da agência de saúde da ONU sobre o assunto e mostram que o problema no Brasil é mais grave que a média de outros países - a média dos países estudados é de uma em cada seis mulheres agredidas em casa. As conclusões do estudo são alarmantes: a violência dentro de casa contra mulheres é bem maior que a violência praticada por estranhos ou mesmo estupro. Para a OMS, essas agressões, principalmente de maridos ou parceiros, têm um impacto direto sobre a saúde das mulheres e são em grande parte abafadas.
O estudo foi conduzido entre 2000 e 2003 com 24 mil mulheres em países como Japão, Etiópia, Tailândia e Tanzânia, além do Brasil. Em um levantamento feito com 1.172 mulheres entre 15 e 49 anos em São Paulo, a OMS concluiu que 29% delas sofreram violência física ou sexual em suas casas. Em Pernambuco, das 1.473 mulheres entrevistadas, 37% delas também foram vítimas de agressões. Socos, chutes, ameaças e ataques com armas são os mais comuns.
Em São Paulo, o estudo aponta que uma em cada dez mulheres sofreu violência sexual de seus parceiros. Em Pernambuco, 14% das mulheres entrevistadas passaram pela situação.
O relatório ainda traz a história de uma brasileira obrigada a dormir trancada em um quarto para não ser agredida por seu marido. "Ele pegou essa arma, não sei de quem. E ele dizia às minhas meninas: 'Vou matar a mãe de vocês'. O dia vai nascer e sua mãe vai estar morta bem aqui. Dormi trancada num quarto, com um cachorro para que ele não me matasse", contou a brasileira.
"A avaliação mostra que as mulheres correm mais risco dentro de casa que nas ruas em termos de violência", afirmou Jong Wook Lee, diretor da OMS. Para ele, esse é um problema de saúde pública. Segundo o estudo, entre 25% e 50% das mulheres entrevistadas nos dez países disseram sofrer lesões como resultado da violência. Em São Paulo, essa proporção é de 40%. Em Pernambuco, 37%. Para um terço dessas mulheres, as lesões foram tão graves que tiveram de ser levadas ao hospital - e 20% delas passaram a noite internadas.
Em termos gerais, as mulheres que foram violentadas sexualmente ainda têm o dobro de chances ter problemas de saúde que as demais, inclusive a contaminação pelo vírus da aids e distúrbios mentais. Essas mulheres ainda estariam mais propensas a cometer suicídio. No Brasil, 9% das mulheres violentadas apresentam um estado de saúde precário, uma média duas vezes maior que o restante da população.
GRAVIDEZ
Nem mesmo as grávidas estão protegidas. Entre 4% e 12% das mulheres grávidas contaram ter sofrido violência nos dez países pesquisados. Em 90% dos casos, o autor das agressões foi o pai da criança. Entre 25% e 50% dos casos, a violência foi justamente no abdome.
No Brasil, o estudo mostra que 8% das mulheres grávidas em São Paulo e 11% em Pernambuco estão sujeitas à violência. 29% das entrevistadas em São Paulo disseram que foram agredidas no abdome. Um terço declarou que a violência se tornou maior na gravidez. Não por acaso, abortos são mais freqüentes entre mulheres violentadas.
As jovens também são alvo das agressões: 12% das mulheres em São Paulo disseram que foram sexualmente violentadas antes de 15 anos de idade, ante 9% em Pernambuco.
Um dos principais problemas para combater essa violência é o silêncio das vítimas: 20% das entrevistadas nos dez países disseram que nunca revelaram as agressões às autoridades. Poucas contam à polícia, salvo em casos extremos.