Título: 'Todo ministro da Economia é maluco'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

A economista Maria da Conceição Tavares reinou no Senado Federal ontem, no seminário "A Atualidade do Pensamento de Celso Furtado". Discípula do economista e teórico do desenvolvimento falecido há um ano, a ex-deputada e hoje assessora da liderança do governo no Senado foi a única entre os expositores a resvalar na briga interna do governo, entre os que defendem maior rigor fiscal e os que pressionam pela flexibilização do ajuste. A disputa poderá custar a cabeça do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, líder do primeiro grupo. Conceição esquentou o clima morno do seminário. À vontade, qualificou-se como "velha senhora", puxou as orelhas do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, e debochou das novas teorias fiscais do deputado Delfim Netto (PMDB-SP). A economista destacou que todos os ministros da Fazenda da América Latina - inclusive Palocci - "são malucos". Alguns, ex-colegas, "esqueceram tudo" e se "deslumbraram". Outros, ex-alunos, "não aprenderam nada".

Com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), organizador do seminário e formalmente chefe dela, foi mais incisiva: ameaçou "assombrá-lo" se não caminhasse segundo os princípios que ela defende. A platéia riu e aplaudiu de pé.

"Não vi nenhum ministro da Fazenda social-democrata e de esquerda protestar contra o paradigma neoliberal, com exceção da Argentina, onde o ministro (Roberto Lavagna) é centrista e fez uma dura negociação com o Fundo Monetário Internacional", afirmou, em referência indireta a Palocci. "Falar contra a política econômica é como se estivéssemos batendo contra uma parede. Ela se transformou em uma armadilha maldita, difícil de se desmontar."

Conceição atacou os processos de privatização - por elevarem as transferências de capitais para o exterior - e criticou as baixas taxas de crescimento econômico. "O presidente do BNDES disse que tem saudades da época em que o Brasil tinha taxas de crescimento de 7% e 8% ao ano. Mas ele se esqueceu que isso aconteceu no regime militar. Estava tão preocupado com o crescimento que não se deu conta", disparou, em reprimenda a Mantega.

O rigor nas contas públicas - tese defendida por Palocci - foi atacado em deboche à proposta do deputado Delfim Netto de adoção da meta de déficit nominal zero com esforço fiscal mais severo. Conceição lembrou que o autor foi ministro do regime militar, período no qual o rigor na área fiscal não prevaleceu. "Estou em uma perplexidade imensa. Se o Celso estivesse aqui, também estaria perplexo."