Título: Governo ainda crê em PIB de 3,4%
Autor: Fernando D, Gustavo F, Renata V. e Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Economia & Negócios, p. B5

O governo decidiu ontem reagir às avaliações de que a economia brasileira terá este ano uma taxa de crescimento inferior aos 3,4% das projeções oficiais. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que a estimativa está mantida. "Continuamos trabalhando com uma margem para o crescimento de 3,4%", disse Bernardo. Ele acrescentou que a economia está indo bem neste último trimestre do ano. O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, afirmou que o governo só vai decidir se vai rever a projeção para o ano depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar os dados do terceiro trimestre, no dia 30.

A perspectiva de que o resultado do IBGE seja negativo é fonte de preocupação nos bastidores. Aliados do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, temem que o dado abale ainda mais sua posição no governo. O crescimento menor do que o esperado daria mais munição para a ala que defende uma flexibilização da política econômica.

No discurso oficial, porém, o otimismo está mantido. Ontem, em entrevista a emissoras de rádio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a economia vive um momento positivo raro. "É um fenômeno que não acontecia há muitos anos no Brasil: crescimento econômico, das exportações, das importações, do mercado interno, da economia com inflação baixa."

Na avaliação do presidente, o Brasil "encontrou o caminho do desenvolvimento" e por isso tem condições de manter taxas anuais de crescimento por um longo período. "Não precisa 10%, não. Pode ser 4%, pode ser 5%, mas que seja uma coisa contínua, que seja por longo prazo para que a gente possa recuperar os 20 anos de atraso que nós tivemos no Brasil."

As condições de um ciclo continuado de crescimento foram criadas, segundo o presidente, porque agora está se fazendo um jogo combinado. "O Brasil era assim: quando decidia exportar, matava o mercado interno. Quando se voltava ao mercado interno, matava as exportações. Parecia que as duas coisas não combinavam."

Segundo Lula, isso ocorria na mesma época em que se dizia que era preciso deixar o bolo crescer para depois distribuir (tese defendida pelo então ministro da Fazenda Delfim Netto). Para o presidente, agora os objetivos estão conciliados.

O principal dividendo do crescimento, segundo Lula, é a geração de empregos. Ele informou que foram criados 1,3 milhão de empregos só em São Paulo. E acrescentou: a retomada dos investimentos em saneamento básico tem ajudado a puxar o emprego. "Só não conseguimos fazer na pressa que eu gostaria."