Título: Furlan não vê solução para o câmbio
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2005, Economia & Negócios, p. B8

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que as exportações brasileiras correm o risco de terem um "crescimento módico" no ano que vem por causa do câmbio fraco. Afirmou, ainda, que a compra de dólares pelo Banco Central (BC) não surte efeito para inverter a valorização do real.

Furlan sustenta que o atual patamar do dólar vai "alijar um grande número de empresas do comércio exterior" no médio prazo e defende mudanças na legislação cambial.

"Por isso, mantenho a meta de US$ 120 bilhões no ano que vem, um crescimento menor que 3%. Não consegui, ainda, enxergar concretamente o que pode acontecer no ano que vem, principalmente pela questão do câmbio, muito mais que pela logística e a burocracia, que têm espaço para ser melhorado", declarou, durante apresentação no segundo dia do 25º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), no Rio.

No final do discurso, disse aos cerca de mil participantes do encontro: "Não tenho uma palavra de conforto, infelizmente, em relação ao câmbio." Apesar da análise, considerada realista pelos exportadores, Furlan não fez críticas diretas a outros órgãos do governo.

Segundo ele, a equipe econômica está sensível ao problema. "Se a área econômica soubesse a solução, já teria feito. É que estamos vivendo um momento que o Brasil nunca viveu, com US$ 40 bilhões de superávit. Temos de encontrar a ferramenta e os caminhos, porque isso não está no livro-texto", disse.

Furlan disse compartilhar das preocupações gerais ligadas às exportações. Citou que há setores com graves problemas, como o calçadista, que perdeu vendas externas de 3 milhões de pares em setembro e de 4 milhões em outubro. Ele explica que poderá até haver crescimento este ano em valores, mas ponderou que "no fim, o que gera emprego é a produção física". No setor automotivo, disse o ministro, acendeu a luz amarela.

Ele descartou, contudo, o risco de queda de exportações no próximo ano. Mas, na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), há risco de recuo nas vendas externas no ano que vem.

Segundo o diretor-executivo do instituto, Julio Sérgio Gomes de Almeida, os valores ficarão perto ou abaixo do resultado deste ano. Isso porque setores mais sensíveis ao câmbio, como o de bens de capital e o automotivo, já estão sendo afetados e têm pouca chance de destinar ao mercado interno a parte da produção que seria exportada.

MEDIDAS

Furlan comentou que, apesar dos números positivos da balança comercial, alguns setores estão de fato perdendo o ânimo. Ele explicou que as compras de reservas, da ordem de US$ 10 bilhões em 2004 e de US$ 5 bilhões este ano, acabaram "não tendo influência".

A solução para o câmbio, prossegue o ministro, depende de um conjunto de fatores. Segundo ele, a própria queda da taxa Selic deverá ajudar a amenizar o problema. Para o ministro, também deveria haver mudança na legislação cambial, que vem desde o século passado e não permite aos exportadores compensar importações ou dívidas no exterior com as exportações, por exemplo.

Furlan citou que boa parte das mudanças quanto às regras cambiais precisa passar pelo Congresso Nacional, lembrando que o País já está no fim do ano e 2006 será um ano eleitoral. Ele lembrou que existe uma situação quase irreversível de excesso de dólares, motivado pelo elevado saldo da balança comercial e também influenciado pelos exportadores que precisam antecipar os contratos de câmbio.

Sobre a "MP do Bem", Furlan afirmou que é equivocado avaliar que só 150 empresas (que exportam mais que 80% do faturamento) serão beneficiadas, conforme avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), anfitriã do evento.

Ele explicou que as empresas podem abrir subsidiárias para novos projetos. E exemplificou que uma empresa baseada num Estado, quando abrir uma fábrica voltada para o mercado externo em outro Estado, no lugar de fazer uma filial, pode abrir uma nova empresa e se beneficiar da medida, com um cadastro de pessoa jurídica independente.

"A MP foi feita olhando para o futuro. Quando nós criamos plataformas e exportação de bens e serviços, pensamos muito mais em investimentos novos, olhando o mercado internacional."