Título: Palocci e a Fiesp
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Economia & Negócios, p. A2

Não é só a ministra Dilma Rousseff que insiste em que o ministro Antonio Palocci está errado e que a política econômica precisa de conserto. A Fiesp também recita esse mantra. A diferença está em que as divergências entre Dilma e Palocci se concentram na questão fiscal, que é quanto o governo federal deve gastar, especialmente em 2006, ano de eleições. Quando malha a política econômica e os lucros dos banqueiros, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, lembra mais o líder do MST, João Pedro Stédile, do que a ministra Dilma.

Na nota oficial da Fiesp divulgada no dia 16, no auge da queda-de- braço entre Dilma e Palocci, Skaf declarou que a política econômica precisa de revisão, com ou sem Palocci. Tem de haver mudanças na política cambial e na política dos juros ¿ exigiu. Também quer que o empresário tenha assento no Conselho Monetário Nacional para fixar metas mais baixas de inflação.

Skaf não é claro sobre o que pretende do câmbio. Às vezes dá a impressão de que prega a volta do câmbio fixo, notória impossibilidade. Outras, que o Banco Central compre dólares, não para empilhar reservas, mas para puxar as cotações. Skaf deveria anotar as estatísticas disponíveis no site do BC.

Desde o início de 2003 até setembro de 2005, o Tesouro comprou US$ 27 bilhões em moeda estrangeira, o Banco Central comprou US$ 17 bilhões e a redução da dívida cambial do setor público foi de US$ 49 bilhões. Por iniciativa própria, o setor privado passou a tesoura em US$ 19 bilhões em dívidas externas.Tudo somado, o ajuste no período foi de US$ 112 bilhões. Skaf acha pouco?

Não estão disponíveis números mais recentes. Estimativas do mercado dão conta de que, apenas em outubro, o Banco Central comprou US$ 3,6 bilhões. Em novembro, até sexta-feira, foram mais US$ 2,7 bilhões. As reservas externas líquidas já devem rondar os US$ 50 bilhões. Se o Banco Central seguir comprando dólares estará reforçando a percepção de que as contas externas estão uma belezura. E com que resultado? Mais valorização do real.

É para o Banco Central intensificar os leilões de ¿swap¿ cambial reverso no mercado de derivativos, pelos quais fica vendido em dólares futuros e comprado em reais futuros? Essas operações foram intensificadas na semana passada. Mas não conclua o sr. Skaf que aumentarão o volume de compra de dólares no câmbio físico. E mais: a cada posição comprada, corresponde sempre uma vendida.

É para derrubar os juros? Sim, é para derrubar os juros. Mas se a valorização do câmbio aconteceu preponderantemente pela disparada das exportações e não pela entrada de capitais especulativos, convém não esperar demais de que o recuo dos juros promova a desvalorização do real. Entre junho e dezembro de 2003, os juros básicos caíram de 26,5% ao ano para 16,5% ao ano e, no entanto, o câmbio ficou praticamente estável. Pode-se prever o contrário: se os juros baixarem consistentemente, a percepção pode ser a de que os fundamentos da economia melhoraram e o resultado pode ser mais valorização cambial, e não o contrário.

A Fiesp está preparando projeto de ampla reforma cambial. A proposta mais importante é a liberação do mercado de moeda estrangeira. Por trás da idéia está o pressuposto de que haverá mais procura de dólares e a cotação terá tudo para subir. Pode acontecer o contrário. Se as negociações ficarem liberadas, ninguém precisará estocar dólares em casa e, mais do que isso, poderá inciar a desova dos que estão debaixo do colchão.

Alguém precisa mostrar a floresta inteira para o presidente da Fiesp e não só uma árvore.