Título: Câmbio está atrapalhando até importador
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2005, Economia & Negócios, p. B14

A lista de vinhos da Mistral foi impressa com o dólar abaixo das cotações atuais

A queda do dólar frente ao real já tem dado drible até em importador. A Mistral Importadora ¿ uma das principais distribuidoras de vinhos importados do País, com catálogo de 2,5 mil títulos ¿ enfrenta uma situação inédita neste momento. Uma promoção natalina, que acaba de ser oferecida aos apreciadores de vinho, pode criar um problema para a empresa. Quando foi idealizada, a Mistral pensou em duas cotações: dólar a R$ 1,99 para 500 títulos da carta e a R$ 2,15 para os demais produtos do catálogo. Valores impressos. Há cerca de 20 dias, a cotação estava próxima de R$ 2,25. A apreciação do real nos últimos dias derrubou o dólar a meros R$ 2,16. ¿Bem, se a cotação começar a cair, a situação vai ser estranha. A cotação do catálogo estará maior que o câmbio oficial. Claro que valerá a taxa do dia, oficial¿, antecipa Ciro Lilla, proprietário da Mistral Importadora.

Embora tenha mantido o hábito de manter catálogos com preços em dólar, convertidos à taxa do dia ¿ o que não foi seguido pela concorrência ¿, a Mistral acha que o resultado da operação já começa a ficar comprometido. A empresa ganhou mercado, mas a cotação baixou tanto que a remuneração obtida com a venda balizada pelo dólar não consegue cobrir todos os custos em reais. ¿Minha remuneração é em dólar. Ganho mercado, é verdade. Entretanto, meus custos são em reais, que crescem substancialmente¿, afirma.

Como manteve os preços dolarizados, Lilla deve adotar uma medida antipática nas reposições: fazer reajustes dos preços em dólar. ¿São aumentos marginais depois da reposição de estoque, mas será necessário fazê-los¿, alega.

O câmbio para ele é um problema de qualquer forma. Ele é um dos proprietários da Companhia Lilla de Máquinas, instalada em Guarulhos. A empresa exporta máquinas e equipamentos de torrefação de café. A receita com exportação, que chegou a 40% do resultado, começou a baixar. ¿É uma questão de tempo para eu parar de exportar¿, diz.

A Officinet, especializada em venda por canais virtuais de materiais de escritório, conseguiu blindar a receita em períodos de volatilidade cambial. Metade do faturamento deriva de produtos importados ou atrelados ao dólar. Para a publicação de catálogos mensais, além de um acordo com os fornecedores, a empresa criou uma banda para variações de 2,5% sobre a cotação do dólar. Para baixo ou para cima, a banda acomoda variações bruscas do câmbio. ¿É a forma de proteção¿, afirma Tatiana Vidal, gerente de Marketing da Officinet. Para catálogos anuais, a empresa simplesmente não informa o preço dos produtos importados.