Título: Construída por migrantes do Nordeste, Brasília ainda os atrai
Autor: Irany Tereza, Luciana Garbin
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Metrópole, p. C10

Construída por migrantes na década de 50, Brasília segue atraindo gente do País inteiro. Alguns ganharam dinheiro, mas a maioria luta pela sobrevivência. José Gildo, de 44 anos, veio há 11 anos e Antônio de Moura, de 40, há cinco meses. Ainda estão lutando. Gildo veio de Exu, cidade de 32 mil habitantes no sertão pernambucano. Mora em Santo Antônio do Descoberto, cidade goiana no entorno do DF. Tem 14 filhos - a metade nascida em Brasília -, ganha dinheiro lavando carros há cinco anos e não quer voltar para Pernambuco.

Gildo nunca sabe quanto vai levar para casa no fim do dia, não tem carteira assinada nem aposentadoria. Não conseguiu comprar casa ou terreno e os filhos que podem trabalhar tampouco têm emprego fixo. Mas é melhor do que o sertão. "Lá, eu trabalhava na roça. Aqui, pelo menos todo dia tem serviço."

Moura chegou a Brasília em maio, vindo de Crato, cidade de 95 mil habitantes no sertão cearense. Vivia de bicos. No DF, não mudou muito. Sem emprego fixo, lava carros com Gildo e não sabe se vai ficar. "Vim para melhorar a vida, mas não resolveu nada. Se não conseguir carteira, talvez volte ao Ceará."