Título: Governo vai proibir o trânsito de aves no Sul
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Economia & Negócios, p. B7

O episódio da febre aftosa, a ameaça da gripe aviária ao redor do mundo e o estado de alerta sanitário no setor público levarão o governo federal a proibir nos próximos dias o transporte de aves em parte do território nacional, principalmente nos Estados do Sul e parte do Sudeste. O Centro-Oeste pode ser incluído na medida. A iniciativa faz parte de um pacote de ações (que inclui um plano de contingência para novas emergências sanitárias) que visa a blindar parte do agronegócio exportador da indústria aviária que gerou de janeiro a setembro deste ano US$ 2,64 bilhões em divisas. A regionalização da produção de aves pode evitar embargos totais ao País, assim como ocorreu com a carne bovina. O transporte de animais é, segundo grandes indústrias como Sadia e Perdigão, o grande vetor de doenças e uma fonte de risco para disseminação de patologias como a influenza aviária. O investimento para implementar o programa variará entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões. Financiará barreiras fixas e móveis nas fronteiras dos Estados envolvidos. O setor privado reivindica a medida há mais de três anos.

"O transporte de animais é sem dúvida o principal vetor de transmissão de doenças. Do ponto de vista sanitário é um desastre", alerta Ariel Antonio Mendes, diretor técnico-científico da União Brasileira de Avicultura (UBA). A decisão está nas mãos de uma comissão especial criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A posição brasileira será apresentada oficialmente numa conferência internacional sobre influenza aviária, que acontece dia 30, em Brasília.

O programa nacional que institui a regionalização da produção de aves de corte terá três fases. Será implementada a partir do primeiro dia de janeiro de 2006, 2007 e 2008. A primeira área enquadrada, segundo a previsão, é a região Sul, parte das regiões Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) e o Centro Oeste (Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal, os dois últimos não confirmados). Outras regiões ficam para outros anos.

A reportagem do Estado procurou a área de defesa sanitária do governo federal para saber sobre as garantias de implementação do programa de regionalização, mas não obteve retorno. Segundo Ricardo Menezes, diretor de relações institucionais da Perdigão, há um compromisso do Mapa em implementar e manter a medida. Há também o reconhecimento dos riscos em curso. Na rubrica "prevenção, controle e erradicação de doenças da avicultura", indicada nos gastos correntes do Ministério da Agricultura, observa-se que embora haja dotação de R$ 3 milhões, houve empenho de apenas R$ 464 mil.