Título: Para Lavagna, Brasil não aceita a 'nova Argentina'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Economia & Negócios, p. B4

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, não está nada contente com a mensagem enviada pelo governo brasileiro, no último dia 10, de que não aceitará o modelo proposto por Buenos Aires de adoção de salvaguardas no comércio bilateral - um mecanismo que, de tanto escorregar nas negociações, foi rebatizado pelos argentinos de Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC). Três ministérios brasileiros - Fazenda, Relações Exteriores e Desenvolvimento - concordaram que era melhor refletir sobre a conveniência do modelo. Em entrevista para um canal de televisão de seu país, na noite de anteontem, Lavagna reclamou da lentidão dos debates, que se arrastam há mais de um ano. Chegou a declarar que o Brasil não se conforma com o atual processo de reindustrialização de seu país. "Agora que se produz uma mudança fundamental, quando a Argentina se vê em pleno processo de reindustrialização, custa ao Brasil adaptar-se a essa nova realidade", afirmou Lavagna.

"Está claro que preferiria uma Argentina financeira e um Brasil industrial. Mas hoje a decisão foi por uma Argentina industrial, agropecuária, de serviços extremamente competitiva, em nível de Mercosul e em nível mundial. Custa ao Brasil aceitar isso", completou.

As salvaguardas são autênticas medidas de proteção comercial. Permitem a restrição do ingresso de produtos específicos a um mercado, por meio de elevação das tarifas ou de limitação de volumes, nos casos comprovados de danos aos setores nacionais provocados pelo aumento significativo das importações desses itens. Pelas regras da OMC devem ser aplicadas a todos os fornecedores dos produtos atingidos.

Segundo Lavagna, a ausência de acerto entre o Brasil e Argentina sobre as salvaguardas até o dia 30 deverá comprometer o encontro entre os presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, em Puerto Iguazú, na fronteira entre os dois países. Lavagna insistiu que, sem a assinatura do documento, o encontro será "puramente cerimonial".