Título: As dificuldades do Banco Popular
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Economia & Negócios, p. B2

O alto índice de inadimplência de 29,1% foi registrado no último balancete do Banco Popular do Brasil, subsidiária do Banco do Brasil para atender a população com renda de até três salários mínimos nas operações de microcrédito. O primeiro presidente da instituição, Ivan Guimarães, admitiu o risco de que o novo banco apresentasse prejuízo durante dois anos, mas, certamente, não era previsto um problema dessa magnitude. Das operações totais de apenas R$ 64,7 milhões, nada menos que R$ 18,8 milhões apresentavam, em agosto, atrasos de pagamento, segundo reportagem do jornal Valor. Mais da metade das operações (R$ 9,9 milhões) já era classificada na classe H do Banco Central, ou seja, como créditos irrecuperáveis. O prejuízo acumulado em 12 meses, até junho, foi de R$ 47,5 milhões.

O Banco Popular foi criado há dois anos para atrair o público para o sistema bancário, como fizeram a Caixa Econômica Federal (CEF) e bancos privados, caso do Bradesco, que opera agências do Banco Postal nas filiais do Correio. O Banco Popular pretendia ter rede de 21 mil pontos de atendimento e 8 milhões de correntistas, números muito ambiciosos. Entre a realidade e os objetivos há um fosso.

Em 2004, foram abertos 1.400 quiosques bancários nas lojas das Casas Bahia, mas, em março deste ano, segundo Guimarães, o número de clientes ainda era de 1,3 milhão e o banco já queria fechar parte dos 5 mil pontos de atendimento, muitos deles deficitários, antes de chegar ao número de agências pretendido.

As linhas básicas de crédito oferecidas pelo Banco Popular começavam em R$ 50 e poderiam atingir R$ 600 para bons pagadores. Um seguro de vida foi lançado pelo banco com prêmio de apenas R$ 2 por mês.

A rotatividade da alta administração não ajudou a criar padrões de atendimento. Guimarães foi substituído, em abril, pelo candidato derrotado do PT ao governo de Brasília, o bancário Geraldo Magela, que permaneceu na função até setembro, tendo sido substituído por Robson Rocha.

Um dos desafios foi conciliar quadros estruturados com operações de pequeno valor para uma população sem tradição de receber serviços bancários.

O Banco Popular não parece ter-se valido da experiência do Grameen Bank, que deu origem ao microcrédito em Bangladesh e é tido como bem-sucedido, voltando-se não para financiar o consumo, mas pequenos negócios, em geral informais. As linhas de crédito do Grameen Bank eram de US$ 3 bilhões e a inadimplência de apenas 2%, em 2003, segundo entrevista de seu fundador, Muhammad Yunus, ao Estado.