Título: Delegada define crime de padre
Autor: Simone Iwasso, José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Vida&, p. A12

Ela pedirá indiciamento por abuso sexual comercial de menores

A delegada Ana Karla Silvestre disse ontem que irá pedir o indiciamento do padre Félix Barbosa Carreiro, de 43 anos, por exploração sexual comercial de menores em São Luís. O inquérito deve ser concluído antes de sexta-feira. De acordo com a delegada, o enquadramento adotado abrange todos os tipos de crime sexual cometidos por Carreiro. "Ouvimos 24 vítimas e detectamos que ele cometeu vários crimes. O enquadramento de exploração sexual comercial é mais amplo e engloba todos os demais", explicou.

O religioso foi preso na madrugada do dia 5, num motel de São Luís, na companhia de quatro jovens, sendo dois adolescentes - um de 14 e outro de 17 anos. Foi atuado em flagrante. As investigações apontam que o padre esteve pelo menos 50 vezes no motel e pagava aos jovens até R$ 200, em dinheiro ou presentes.

Concluído, o inquérito será encaminhado à 2ª Vara Criminal de São Luís, especializada em crimes contra menores. De lá, os documentos vão para o Ministério Público, que terá cinco dias para formular formalmente a denúncia à Justiça.

O arcebispo de São Luís, dom Paulo Ponte, admitiu, novamente, que sabia da conduta do padre. "Ele me dizia que não tinha havido atos gravíssimos, mas apenas uma tendência de perigo que o levava a ficar dependendo um pouco dos jovens", explicou.

O arcebispo disse que, na época de uma investigação do Ministério Público, arquivada por falta de provas, realizada quando Carreiro trabalhava em outra paróquia de São Luís, o padre chegou a ser submetido a tratamento psicológico. "Eu não achava correto que ele saísse muito de carro. Recomendei que não fizesse isso, que não era conveniente. Mas reconheço que foi uma falha não ter sido mais lucidamente atento a esses problemas", acrescentou.

Depois que o Ministério Público arquivou a primeira investigação, o padre foi transferido para a paróquia do bairro de Cohafuma, onde estava até ser flagrado pela polícia. Carreiro, apesar de ainda ser padre, não pode rezar missas ou ministrar sacramentos. É alvo de uma sindicância da Igreja, baseada no direito canônico.

OUTROS PADRES SOB SUSPEITA

A conclusão do inquérito não põe fim às investigações sobre a conduta sexual de outros padres de São Luís. O superintendente de Polícia Civil, Marcos Afonso Júnior, disse que as informações sobre novos fatos ligados a exploração sexual de menores por padres serão investigadas em outro inquérito.