Título: PUC se reestrutura para sair da crise
Autor: Simone Iwasso, José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Vida&, p. A12

Demissões, junção de setores, terceirização e outras medidas já são tomadas para diminuir gastos e pagar dívida de R$ 71 milhões

A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) completará 60 anos em agosto sob novo regime administrativo para acabar com uma dívida de R$ 71 milhões acumulada nas últimas décadas. As mudanças, que serão consolidadas em 2006, já começaram e incluem abertura de novos campus, demissão de funcionários, junção de setores internos, terceirização de outros e uma modificação no contrato dos professores. Tudo para diminuir gastos e aumentar a receita. "Continuamos filantrópicos e prezando pela nossa característica de ensino, pesquisa e extensão. Prestando serviços para a comunidade e concedendo bolsas. Mas, a curto prazo, precisamos eliminar um déficit mensal", diz a reitora Maura Bicudo Véras. O primeiro passo para a reforma foi dado em agosto, com a renegociação da dívida. O Bradesco e o ABM Amro emprestaram R$ 82 milhões à universidade, que devem ser pagos em 74 meses - R$ 61 milhões foram usados para pagar outros 14 bancos nos quais a PUC era devedora. O restante dará um fôlego para a instituição nos próximos meses.

"Substituímos, concentramos e alongamos o prazo de pagamento da dívida, que vencia em 67 dias", explica o vice-reitor administrativo, Flávio Mesquita Saraiva. Segundo ele, cerca de 90% dos recursos da PUC vêm das mensalidades. Assim, além de tentar aumentar a captação de verba por meio de prestação de serviços, por exemplo, a instituição aposta em novas unidades. Neste ano, foi aberto o campus de Santana, zona norte da capital. No ano que vem as aulas começarão em Barueri, num prédio cedido pela prefeitura. Outra possibilidade é usar um prédio no centro de São Paulo para novos cursos.

Nos departamentos não ligados diretamente ao ensino, as mudanças estão mais avançadas. A gráfica foi extinta, a controladoria e a contabilidade foram unidas e o quadro de funcionários diminuiu. Desde o começo do ano, cerca de 80 funcionários foram demitidos e a instituição abriu um plano de demissão voluntária, até agora com 52 adesões, que foi prorrogado até o fim do mês - o que tem causado reações e protestos nos corredores.

"Estamos preparados para uma greve. O que está acontecendo é um plano de demissão involuntária, sem nenhum diálogo com os funcionários", afirma o presidente da Associação dos Funcionários da PUC (Afapuc), Anselmo Antonio da Silva.

Para os professores, que segundo o vice-reitor ocupam 76% da folha de pagamento, a idéia é mudar os contratos de trabalho, o que deve ser feito em janeiro, quando vence o acordo negociado neste ano. Pela forma atual, os professores, por exemplo, contratados para dar 30 horas de aula precisam cumprir de 12 a 14 créditos. A maioria cumpre 12. A reitoria quer que passem a cumprir 14, acabando com a variação. "Vai haver redução, não há dúvida, mas estamos discutindo com o conselho para fazer ajustes com criatividade, evitar a demissão e criar outros arranjos", diz Maura.

A Associação dos Professores da PUC (Apropuc) rejeita a proposta. "Ela agrega trabalho, gera redução dos contratos e provavelmente levará a demissões, porque todos os professores vão aumentar seus créditos e não vai haver aula para todos. A qualidade do ensino fica prejudicada", afirma a presidente da associação, Priscilla Cornalbas. "É a mercantilização do ensino, a via pela qual as escolas privadas gerenciam sua situação financeira." Eles deverão fazer uma assembléia nesta semana para discutir os próximos passos.

HOSPITAL

Dentro do projeto de reestruturação, a universidade pode demitir mais profissionais também em Sorocaba, onde mantém o Centro de Ciências Médicas e Biológicas, com as Faculdades de Medicina, Enfermagem e Biologia e o Hospital Santa Lucinda. Isso para reduzir o déficit operacional do hospital, que beira os R$ 400 mil. Até a semana passada, tinham sido dispensados 53 funcionários, dos quais 15 aderiram ao Plano de Demissão Voluntária (PDV). As novas demissões, porém, só devem ocorrer em 2006.

Com 150 leitos, o Santa Lucinda faz parte do Complexo Hospitalar de Sorocaba e funciona como hospital-escola. "Estamos buscando formas de torná-lo menos oneroso", informa o vice-reitor administrativo, Flávio Saraiva. Dos 600 funcionários de Sorocaba cerca de 300 atuam na área hospitalar. A unidade recebe subvenção da prefeitura para atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). O hospital passou por uma reforma e deverá abrir nova área de cirurgia, graças a um empréstimo da Caixa Econômica.

O vereador Mário Marte Júnior (PFL), no entanto, teme que as demissões afetem o atendimento. Ele pediu informações à PUC sobre o plano de reestruturação. Saraiva garantiu que as demissões ocorreram porque alguns serviços, como os de lavanderia, radiografia e limpeza, foram terceirizados.

REFORMA

Parece contraditório, mas em tempos de corte de gastos, a PUC começa a demolição e a construção de três novos prédios na capital, em frente do prédio principal, em Perdizes. A obra, orçada em R$ 10 milhões, deverá ser feita com dinheiro proveniente da venda de um imóvel da universidade e financiamento do BNDES.

O motivo de fazer tudo isso agora, segundo a reitora, é a condição do prédio: a obra é irregular, desrespeita normas da Prefeitura e recebe multas mensais por isso.

O ROMBO: Atualmente em R$ 71 milhões, a dívida da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), de acordo com a reitoria, foi sendo acumulada ao longo dos anos por meio da obtenção de vários empréstimos, com diversos bancos, para sanar déficits gerados pelo desequilíbrio entre a receita e a despesa.

A administração, no entanto, não dá maiores detalhes sobre como se chegou a esse valor. Mas foi em 2003, antes da atual administração assumir, que a dívida deu seu maior salto. Passou de R$ 31 milhões para os atuais R$ 71 milhões. O maior motivo, segundo o vice-reitor, Flávio Mesquita Saraiva, foi o aumento do salário dos professores ocorrido naquele ano, de 16%, que não foi repassado integralmente às mensalidades dos alunos.