Título: México tenta esfriar tensão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2005, Internacional, p. A11

Governo mexicano declara que caso está encerrado e espera ser possível normalizar relações com Venezuela

Numa aparente tentativa de esfriar os ânimos em seu bate-boca com o venezuelano, Hugo Chávez, o presidente do México, Vicente Fox, mostra disposição de baixar o tom. Seu porta-voz, Rubén Aguilar, disse ontem que o caso está encerrado. "Esperamos que nas próximas semanas ou meses possamos reduzir a tensão para que seja possível normalizar as relações entre os dois países", disse Aguilar. Na véspera, após vários dias de troca de farpas entre Chávez e Fox - motivadas por divergências sobre a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) -, os dois países ordenaram a retirada de seus respectivos embaixadores na Cidade do México e em Caracas.

Os EUA, embora tenham afirmado segunda-feira que não interfeririam na disputa bilateral, mostraram ontem apoio implícito a Fox. "O México teve papel importante nas negociações (da Cúpula das Américas dos dias 4 e 5 em Mar del Plata)", declarou o subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina, Thomas Shannon - que evitou citar o nome de Chávez.

Fox viajou para a Argentina com o propósito de defender a instalação da Alca - proposta pelos EUA. Chávez, ao contrário, afirmou que ia a Mar del Plata para "enterrar a Alca". Durante os debates da cúpula, Chávez e os quatro países do Mercosul expuseram sua oposição à proposta americana e o tom das declarações começou a aumentar.

Primeiro, Fox criticou Chávez e o presidente argentino, Néstor Kirchner, afirmando que "alguns governantes culpam outros países por seus próprios problemas". Kirchner reagiu dizendo que foi eleito pelos argentinos para governar a Argentina, recomendando a Fox "que cuide do México". Chávez foi mais longe: qualificou Fox de "entreguista" e "cachorrinho do império". No auge da tensão, segunda-feira, Chávez convocou o embaixador no México, Vladimir Villegas. Fox, por seu lado, ordenou a volta do representante em Caracas, Enrique Loaeza. As relações diplomáticas entre os dois países se reduziram ao nível de encarregados de negócios - o pior de todos os tempos.

Em Caracas, o embaixador dos EUA, William Brownfield, foi irônico ao negar que seu país esteja por trás do choque entre Venezuela e México.

"Nos últimos seis meses, as autoridades da Venezuela acusam o governo dos EUA de tentativa de assassinar o presidente Chávez, invasão, golpe de Estado, campanhas de abstenção nas eleições, inundações (no Estado) de Vargas e de complôs para aterrorizar as crianças venezuelanas no Halloween", afirmou. "Senhoras e senhores: como eu posso dormir com tantas conspirações e complôs?"

O chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, disse ontem que o Mercosul fará o possível para a normalização das relações entre México e Venezuela. O Itamaraty não se manifestou sobre a crise.